Histórias de espiões, assim como as de máfia, são quase sempre alimentadas por vinganças pessoais. James Bond só volta ao serviço de sua Majestade depois que vinga a morte de Vesper. Em Spooks, Sir Harry Pearce sempre tem uma bala na pistola ou um copinho de whisky envenenado para aqueles que causam a morte de um de seus espiões. Que o digam o chefe da FSB (antiga KGB) que foi responsável pela explosão do carro do agente Adam Carter ou o ex-secretário do Interior, que autorizou outra explosão que matou a ótima Ros Meyers. Quando o Harry aparecer de luvas num recinto, prepare-se. Uma vingança pode estar em andamento.
Vingança é um prato que se come com luvas pretas
Parece que a vida necessariamente esquizofrênica dos espiões, pelo menos no universo ficcional, conta com compensações como essa. Ninguém nessa situção consegue ter uma vida pessoal livre das ameaças da vida profissional. E todos eles abrem mão desse privilégio para servirem seu país. Então a identidade do grupo e o senso corporativo falam mais alto. Eles têm que zelar uns pelos outros. Formam uma confraria e vingam a morte de seus companheiros.
A série da BBC chegou ao fim em 23 de outubro deste ano, quando foi ao ar o sexto e último episódio de sua décima temporada. Spooks (já comentada aqui) foi marcada por desapontamentos. Não é que a série desaponte o tempo todo. É que as histórias têm reviravoltas e desfechos que podem causar frustração para quem assiste. Frustração, desapontamento, decepção como acontecem na vida. Os roteiristas não têm pudor algum ao matar os heróis da série com poucas linhas, economizando na emoção do texto. Mas ainda assim, a ação é suficiente para causar uma reação emocional no espectador. Para mim, a pior morte ou a mais difícil de aceitar é a do personagem Colin. A decepção é meio que uma marca da série. Tem episódios, inclusive, em que a BBC coloca um aviso na abertura com um texto do tipo “esse episódio poderá desapontar alguns telespectadores”.
Ruth, Harry, Adam, Ros, Zafar e Jo na 6ª temporada de Spooks
Então, ao longo das dez temporadas, aprendemos a gostar (ou não) do Harry, do Tom, da Cloe, do Daniel, do Colin, do Malcolm, da Ruth, do Adam, da Ros, da Jo, do Lucas, do Tariq, do Dmitri, entre outros. E vamos dizendo adeus a quase todos eles, ou porque morrem ou porque saem da história. Muitas vezes essas mortes são vingadas. Poucas saídas de personagens são razoavelmente “felizes”, como a da Chloe ou do Malcolm. O último capítulo de Spooks trouxe o desfecho de uma história dentro da história. Um final muito aguardado que, para não variar, resultou em um último desapontamento. E, mantendo a tradição até o fim, a vingança é a personagem mais aguardada da série.
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Guia Webdebee de Spooks
A série produzida pela Kudos para a BBC teve 10 temporadas e seu primeiro episódio foi ao ar em 2002. Em Portugal, a série se chama Dupla Identidade. No Brasil, que eu saiba, não passa em canal algum.
Chloe, Tom, Tessa, Harry, Daniel e Helen. Equipe original
Spooks é uma gíria para denominar espiões. Na série da BBC eles são agentes do MI5, serviço de segurança e inteligência que é ligado ao gabinete do sercretário do interior e atua dentro do território inglês. Fora das terras britânicas, quem atua é o MI6, um outro órgão que também atua com o MI-5 e o Ministério da Defesa inglês. Dizem que os agentes do MI5, na verdade, passam a maior parte do tempo ouvindo escutas telefônicas, monitorando imagens de satélites e de câmeras de segurança e analisando todo esse material, chamado de “intel”. Então, na realidade, a inteligência da informação é a principal arma dos MI5. Mas, na ficção de Spooks, os agentes partem da inteligência para a ação em todos os episódios. Harry Pearce é o chefe da chamada Section D, divisão com foco principal na prevenção de ações terroristas. Harry é um veterano do serviço de espionagem inglês. Sobreviveu às transformações do mundo, desde o fim da Guerra Fria. É o único personagem permanente por toda série.
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Melhores temporadas
Assisti às 10 temporadas em ordem meio aleatória. Tentei manter um distanciamento crítico, mas ainda assim, foi uma coisa muito muito viciante.
Revelando Lucas North
9ª temporada – 2010
Peguei o bonde de Spooks andando no início de 2011. Acho que foi porque na época eu assistia tudo que tivesse o Richard Armitage (na verdade, continuo fazendo isso… hehe) e falava-se muito da atuação dele em Spooks. Nessa nona temporada (que era, então, a mais recente) os Spooks tinham acabado de perder a valorosa Ros Meyers. Claro que, como era a primeira vez que assistia à série, não entendi coisa nenhuma. Mesmo assim, o primeiro capítulo da temporada já parte para a ação, introduzindo dois personagens novos (Dimitri e Beth) e a substituição da Ros pelo Lucas North (Armitage) no comando das operações da equipe em campo. São oito episódios muito tensos em que são revelados segredos (decepcionantes, é claro) sobre um dos principais personagens.
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Adam meets Lucas
7ª temporada – 2008
Essa tem um fio condutor dos epsódios e começa com a chegada do personagem Lucas North e o adeus a Adam Carter logo no primeiro capítulo. Há uma conspiração envolvendo o serviço de espionagem russa, que tinha motivado a captura e tortura de North por longos 8 anos. A temporada avança desvendando a conspiração e tem um daqueles finais desesperadores. Ainda bem que já tinha a 8ª temporada pronta para assistir e não fiquei no suspense mortal dos britânicos, que tiveram de esperar até o outono de 2009 para saber o que tinha acontecido com o Harry. Destaque para a memorável cena do primeiro episódio, em que somos apresentados às tatuagens de Lucas…
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Spooks Series 1
1ª temporada – 2002
Na ordem maluca em que assisti, essa foi a minha 2ª temporada de Spooks. Não tem uma apresentação, digamos, didática do contexto ou dos personagens. O espectador meio que cai no mundo dos espiões. Aliás devo admitir que, apesar de ter assistido à série numa frequencia diária e quase ininterrupta, não quer dizer que eu entendia tudo o que estava acontecendo. Tem momentos em que as reuniões de debrief no grid concentram tanta intel e tão rápido que eu me perdia facil. Ainda assim, é possível deixar rolar e entender o “todo” até o final do episódio. Na primeira temporada, a equipe é liderada por Tom Quinn (o bonitão Matthew MacFadyen, que faz o Mr. Darcy do filme Orgulho e Preconceito). E conhecemos também os outros agentes Chloe, Daniel, Malcolm e, claro, o chefe Harry Pearce. Num dos primeiros episódios da temporada, ocorre uma morte horrível de uma personagem, fato esse que gerou muitas reclamações de telespectadores da BBC. Acho que é nessa 1ª temporada que o Hugh Laurie (House) aparece como um agente do MI-6. As participações dele são poucas, mas excelentes.
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Melhores personagens
Sir Harry Pearce (Peter Firth)
Harry Pearce – o chefe da Section D é uma velha raposa do serviço secreto inglês, tendo atuado durante a Guerra Fria, medindo forças, ao lado da CIA, com a KGB. Ganha o título de cavaleiro, tornando-se Sir Harry na sexta temporada (se não me engano). O humor “mal humorado” dele é uma das melhores coisas da série.
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Ruth Evershed (Nicola Walker)
Ruth Evershed – a super nerd do grupo aparece a partir da 2ª temporada. Antes de chegar à section D, trabalhava no GCHQ (ver abaixo no glossário). Ruth, em geral, é quem depeja toda “intel” sobre os casos nas reuniões de debrief. Tem uma história de amor semi-platônica com o Harry. Na quinta temporada, desaparece para retornar na oitava.
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Ros Meyers (Hermione Norris)
Ros Meyers – aquele jeito da atriz Hermione Norris de quase não abrir a boca para falar confere um não-sei-que-lá de esnobismo e calma tão chiques. Adoro as frases dela como numa cena em que Ben e Lucas saem correndo para socorrê-la. Ela estava sozinha e desarmada com o inimigo. Quando eles chegam e tudo se resolve ela sai do local, não sem antes dizer bem ácida “you should work out more”.
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Glossário Spooks
São tantas siglas e termos próprios de espionagem que demora um pouco para se acostumar. Aí vão alguns termos mais citados.
Alfa 1, do you copy? – Alfa 1, Alfa 2 etc. são os codinomes dos agentes líderes em uma operação de campo. Tem uma hierarquia de responsabilidades e comando. Se não me engano, Omega são os agentes da equipe de apoio que fica no Grid.
Alfa, Bravo, Charlie, Delta… – Alfabeto internacional fonético. Usado pelos agentes para informar senhas de acesso por telefone. Neste blog tem o alfabeto completo.
Black Op – Operação realizada por um agente sem autorização de seus superiores.
CCTV – Closed-circuit Television. É o circuito de câmeras de vigilância de locais públicos e privados. No mundo de Spooks, não há uma imagem registrada por essas câmeras que não possam ser facilmente acessadas pela equipe da Section D.
Debrief – Entrevisa ou reunião em que membros da equipe ficam a par das informações e discutem sua próxima missão.
FCO – Foreign & Commonwealth Office. Espécie de Ministério das Relações Exteriores, o FCO é um departamento do governo inglês responsável pela promoção dos interesses britânicos fora do território nacional.
FSB – Sigla nova da antiga KGB. É o serviço secreto russo.
GCHQ – Government Communications Headquarters. Outra agência de inteligência que coleta e arquiva informações para o governo e forças armadas britânicas. Colabora com outros órgãos de inteligência e segurança. Sua origem remonta à Primeira Guerra Mundial, quando decifrava códigos das comunicações dos inimigos.
Grid – Nome dado às instalações da equipe de Harry Pearce
Grosvenor Square – praça em Londres onde fica a embaixada americana. O nome é usado como um sinônimo da própria embaixada e, consequentemente, da filial da CIA na capital britânica.
Home Secretary – Cargo equivalente ao de Ministro do Interior. Trata de assuntos de ordem política, diplomática, econômica e de segurança interna do Reino Unido. O MI-5 está sob a pasta do secretário.
Intel – Não, não é o fabricante de chips. É um termo que designa toda a informação coletada para apoiar as ações do serviço secreto. Tipo: escutas telefônicas, rastreamento de uso do cartão de crédito, imagens de câmeras de segurança e de satélites e por aí vai.
JIC – Joint Intelligence Committee. Enfim… é uma nação que valoriza a inteligência. Fazer o que? Mais uma entidade ligada à inteligência britânica. O JIC congrega todo esse pessoal do MI-5, MI-6, GCHQ e outros para decisões estratégicas de segurança nacional.
MI5 – De acordo com o site oficial do órgão, o MI-5 é o serviço de segurança responsável pela proteção do Reino Unido contra ameaças à sergurança nacional.
MI6 – Ou Secret Intelligent Service. Serviço de inteligência que atua para além das fronteiras da Inglaterra na defesa do país. É o órgão para o qual trabalha o mítico agente James Bond, o 007.
MOD – Ministry of Defense. Ministério da defesa britânico.
PM – Prime Minister. Primeiro ministro britânico.
Rogue agent – Agent que opera fora do radar. Sem autorização do MI-5 ou outro órgão de inteligência.
Section D – Nome da divisão da equipe de Harry Pearce no MI5.
Thames House – Edifício em Londres onde funciona a sede do MI5.
Vauxhall Cross – Sede do MI6 na outra margem do Tâmisa.
Vet – Todos os agentes e pessoas com quem eles se relacionam ou colaboram devem ser investigados e aprovados pelo MI-5.
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Links recomendados
Site Oficial na BBC – Tem guia dos episódios, elenco, vídeos etc. Entre em “see all series for spooks” para navegar por todas as temporadas.
Wikipedia – Verbete sobre a série é legal com dados de audiência e dá uma geral na história da série. Mas tem muitos spoilers!!!
Spooks Fan Blog – MI-5, not 9 to 5 – blog de uma fã australiana cheio de fotos e comentários sobre os episódios
MI-5: The Security Service – Site oficial do serviço secreto