conquistar mas não governar

“O palácio de Persépolis sucumbiu inteiramente às chamas, o que pode ser comprovado pelos achados arqueológicos. Arriano afirma que o cauteloso Parmenião havia aconselhado Alexandre a poupar a cidade, alegando que o rei não deveria destruir o que agora lhe pertencia e dar a entender os persas que pretendia meramente conquistar o império, em vez de governar. Alexandre contra-argumentou dizendo que desejava vingar a pilhagem de Atenas resultante da Guerra Persa do século V e todos os demais agravos cometidos contra os gregos.” – E. E. Rice: Alexandre, O Grande

Achados arqueológicos

Achados arqueológicos

conquistar o império, em vez de governar

conquistar o império, em vez de governar

sucumbu inteiramente às chamas

sucumbiu inteiramente às chamas

o rei não deveria destruir o que agora lhe pertencia

o rei não deveria destruir o que agora lhe pertencia

Resumão da saga de Alex

Resumão da saga de Alex

 

Persépolis: oriente, ocidente…

 

Friso de tijolos esmaltados, Palácio de Dario I (museu do Louvre, Paris)

Friso de tijolos esmaltados, Palácio de Dario I (museu do Louvre, Paris)

Ah… O reino da Pérsia. A arte, a ciência e a cultura dos tempos de Avicena. As belezas de Isfahan e Persépolis. A civilização dos jardins das delícias. Quando a gente pensa em cultura árabe, muitas vezes não sabe que está se referindo a contribuições persas. Dizem até que foram eles que inventaram as calças compridas e o beijo de língua. Já pensou? Viver sem beijo na boca??!!

O cinema iraniano hoje é muito renomado artisticamente. E acho que merece essa posição por causa de filmes como “Através das oliveiras”, “Gosto de cereja”, “Gabeh”, “Balão Branco”, “O Silêncio” ou “Filhos do Paraíso”. Diretores como  Abas Kiarostami, Mohsen Makhmalbaf e Jafar Panahi. Infelizmente, poucas pessoas no mundo viram esses filmes, em comparação com as mega produções americanas. Então, as chances de o “mundo ocidental” continuar com a visão pobre do que é o Irã são grandes. Mas os realizadores do cinema iraniano continuam produzindo filmes vistos em todo o país e no exterior.

Retrato de Avicena. Médico e filósofo dos bons tempos da Pérsia.

Retrato de Avicena. Médico e filósofo dos bons tempos da Pérsia.

Agora, já que é uma indústria persistente, poderiam contar sua história e resgatar para si mesmos e para o mundo a beleza da Pérsia ou Irã. Tudo bem… Deve ser mesmo complicado, por causa do regime político-religioso. Mas porque ficaram putos com “300”? Não acharam que mostrava os persas como se fossem muito inferiores e bárbaros em comparação com os gregos? Uma indicação de desprezo do ocidente pelo oriente? Não estou nem muito interessada na época de deposição do Xá Reza Pahlavi nos anos 70 e na revolução dos aiatolás que veio em seguida etc. Queria mesmo era ver nas telas o Avicena, os artistas, cientistas, poetas, filósofos, astrônomos, príncipes, princesas, heróis e outras figuras dos grandes reinos islâmicos da idade média. As civilizações douradas e distantes das névoas cinzentas do ocidente.

Mas o propósito não é  falar de um filme iraniano. É sobre uma iraniana, que contou sua vida numa história em quadrinhos, que virou um filme de animação. Uma história apaixonante de busca da identidade e de amor. Que me fez ter mais certeza do quanto a distinção entre oriente e ocidente é ilusória.

Persepolis, o livro: Marjane conta sua história em quadrinhos

Persepolis, o livro: Marjane conta sua história em quadrinhos

Marjane Satrapi é a filha única de uma família intelectualizada da alta classe média de Teerã. Tão adorável quanto Coraline (do Neil Gaiman) e Anna  (de A culpa é do Fidel), Marjane acompanha, ainda na infância, as mudanças e turbulências históricas do país. A queda do Xá, a revolução islâmica, a guerra Irã x Iraque. Não entende porque o tio é preso, pessoas desaparecem. Mas percebe a seriedade das transformações políticas. Agora ela tem que usar véu para andar na rua, ir à escola. Não pode usar o pin do Michael Jackson, nem cantarolar os hits da Madonna. 

Marjane tem um amigo em Deus. Ele mesmo. O Deus de Abraão, Jesus e Mohamed. Ele é um gigante de barba branca que conforta e aconselha a pequena menina persa em seus momentos de angústia e perplexidade. Mas ela tem o amor da família. Os pais carinhosos, a avó que lhe dá conselhos e abraços quentes e perfumados que a acompanharam por toda a vida. Teve um tio também. Descendente de príncipes e encarcerado pelo regime do aiatolá. Seu último pedido antes de “sumir do mundo” foi encontrar a pequena Marjane e transmitir a ela o orgulho por sua corajem e fé. Todas essas pessoas marcaram a vida de Marjane e influenciaram sua percepção de valores como família, política e religião. Foram a âncora de seu coração persa.

 

Persepolis: auto-biografia de Marjane Satrapi

Persepolis: auto-biografia de Marjane Satrapi

Nossa heroina não tinha um temperamento qualquer. Desde criança, enlouquece todos ao seu redor com perguntas difíceis. Faz ponderações nada simples para as professoras-opressoras da nova era teocrática do Irã. Diante desse cenário estreito para uma mente tão expansiva, seus pais tomam uma difícil decisão. Ainda adolescente, Marjane é despachada para a Áustria, onde estuda numa escola francesa, faz e perde amizades, descobre o amor e tem seu coração partido. É claro que sofre com o estranhamento entre culturas. Alguns admiram a jovem que vinha da terra devastada por guerras e mortes. Mas permanece uma estranha. Uma garota morena e exótica do oriente médio. Por uma série de desventuras, sucumbe e acaba perdida pelas ruas de Viena, longe da opressão de seu país de origem, mas totalmente submersa na solidão, dúvida e saudade. Retorna ao Irã , onde nada tinha mudado. Lá se reconstrói e inicia a viagem da vida adulta com paradas nas estações obrigatórias da universidade, do casamento, do divórcio, além de mais conflitos e decepções com a estupidocracia do país.

 

Marjane Satrapi: parisiense, chique e fumante convicta

Marjane Satrapi: parisiense, chique e fumante convicta

Hoje, Marjane Strapi vive em Paris, onde atua como escritora e artista gráfica e publica obras inspiradas pelos mitos e a história da Pérsia. Sua auto-biográfica história em quadrinhos PERSEPOLIS conquistou leitores por toda a Europa e pode servir como uma chave alternativa para a compreensão de como os conceitos e valores culturais, espirituais e políticos ditos ocidentais são, no final das contas, universais. Ocidente e Oriente. Como diz um amiga, isso é uma “palaçada”. O Irã hoje pode não ser mais o brilhante farol da cultura, ciência e artes que um dia ofuscou o mundo conhecido. Mas ainda existe o sonho de uma Pérsia de beleza e inteligência ou uma Bagdá reconstruída e próspera. Assim como parisienses, londrinos e novaiorquinos sonham com a eterna garantia de suas liberdades individuais. E nós, cariocas, sonhamos com um Rio de Janeiro só de paz, amor, belezas e delícias. 

filme de animação PERSEPOLIS, com direção e arte da própria Marjan, junto com Vincent Paronnaud, e vozes de Chiara Mastroiani e Catherine Deneuve, segue o mesmo argumento e a mesma concepção visual do livro-hq. Ganhou uma série de prêmios e pode ser visto em DVD.

As histórias perpetuam os sonhos. Abrem as portas para o melhor que um indivíduo ou um povo pode oferecer. Seja à esquerda ou à direita do globo terrestre.