O leopardo, o lírio e um bando de irmãos

Bernard Cornwell: Azincourt

Bernard Cornwell: Azincourt

“O mastro alto do Trindade Real levava a maior bandeira, a do rei, o grande estandarte dividido em quartos, que mostrava duas vezes os leopardos dourados da Inglaterra e duas vezes os lírios dourados da França. Henrique afirmava que era rei dos dois países , motivo pelo qual seu estandarte mostrava ambos, e a grande frota que enchia Southampton Water carregaria um exército destinado a realizar o que o estandarte alardeava.”

Ingleses contra Franceses. Uma das rivalidades mais clássicas da história, na mesma categoria que Gregos x Troianos, Brasil X Argentina, Fla X Flu ou URSS x EUA,  talvez não tivesse existido se não fosse por Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia, que invadiu a Grã-Bretanha no século XI. A partir da dinastia Normanda, inaugurada por Guilherme I, os monarcas e membros da nobreza inglesa foram aos poucos tornando-se parentes de seus correspondentes franceses. O rei de um país era neto do rei do outro, que era cunhado de um duque do outro e por aí foi-se construindo uma teia complexa de laços familiares que serviriam como argumento para reivindicar direitos de sucessão dos dois lados de la Manche ou English Channel.

Em Azincourt, Bernard Cornwell cria mais uma história na época medieval e em torno de um evento histórico: a Batalha de Azincourt. E cria novamente uma aventura vivida por um arqueiro, como fez anteriormente na trilogia do Santo Graal (O Arqueiro, O Andarilho e O Herege), em que o inglês Thomas de Hookton deixa a Inglaterra para combater os franceses em plena Guerra dos Cem Anos. Cornwell criou uma visão de Azincourt que considera os aspectos históricos e reverencia as visões artísticas (Shakespeare) de forma ponderada. Ao final do livro, ele detalha suas investigações e justifica os caminhos tomados a partir das fontes que estudou.

“Naquela tarde, enquanto o vento soprava firme do oeste, um par de cisnes voou em meio à frota, com as batidas das asas soando altas no ar quente. Os cisnes voaram para o sul e Sir John, vendo-os, bateu na amurada e gritou comemorando.

– O cisne – anunciou padre Christopher aos arqueiros curiosos – é o distintivo privado do nosso rei! Os cisnes estão nos guiando à vitória!”

As obras de Cornwell sempre se apóiam em ricas pesquisas históricas, e tendem a se distanciar da fantasia, embora exista aqui e ali alguma dose de sobrenatural. Como os santos que falam com um personagem de Azincourt, a solução extrema tomada pelo protagonista das Crônicas de Arthur para livrar-se de um conexão mágica com uma sacerdotisa, ou a maldição de uma bela bruxa dinamarquesa que possivelmente rouba a  vida de um ente amado por Uthred, de As Crônicas Saxãs. Mas a preferência por narrativas naturalistas não sacrifica nem um pouco a imaginação ou a boa prosa de Cornwell, rica em personagens que apaixonam e transportam o leitor para a época e o cenário elaborados pelo autor.

Em Azincourt, acompanhamos Nicholas Hook, um jovem arqueiro inglês, que, por caminhos tortuosos, acaba escalado para a campanha de invasão à França orquestrada pelo rei Henrique V. Nicholas viverá terríveis conflitos, desde o massacre de arqueiros ingleses em Soissons, passando pelo sítio de Harfleur até a célebre batalha de Azincourt. Em seu périplo entre a Inglaterra e a França, Hook conhece a bela e corajosa Melisande, o sensacional Sir John Cornewaille, o amigão padre Chrisopher e também faz alguns inimigos, como o Sire de L’Enferelle e um bando de escrotões da aldeia de onde veio na Inglaterra que, para seu desgosto, fazem parte da campanha do rei Henrique. Enfim… Cornwell sempre dificulta a vida de seus heróis com um ou outro personagem “pain in the ass”.

“- Quem é você? – perguntou Hook.

– Swan – respondeu o homem. – John Swan.”

Acho muito bom o aproveitamento que Cornwell faz tanto de materiais históricos quanto da obra de Shakespeare. Como por exemplo, a visita que o rei faz ao acampamento dos combatentes se dizendo chamar John Swan. É uma forma de Henrique sentir como vão os ânimos dos soldados na noite anterior à grande batalha. Esse recurso é bem interessante para o contexto do romance de Cornwell pois coloca em conflito as convicções religiosas e morais de Henrique, que descobre ter enforcado injustamente um homem por roubo de objetos de uma igreja. Tudo para manter sua causa justa perante Deus, seu exército e seu país. Na obra de Shakespeare, também há um enforcamento de um soldado por roubo (um dos integrantes da gangue de  Falstaff) e Henrique se “disfarça” de Henry Le Roy para abordar discretamente os homens que se preparam para uma batalha com poucas chances de vitória para os ingleses.

Uma coisa que ficaria interessante na trama é se o velho rei maluco da França, Carlos VI, tivesse premonições de que a batalha seria perdida. Tipo: uma referência simbólica da arrogância e da insensatez como formas de loucura. O rei podia ser maluco, mas a confiança em sua superioridade numérica acabou sendo a grande tolice dos líderes franceses. Pois é. Como é que Shakespeare, Olivier, Branagh e Cornwell não tiveram essa ideia antes, heim? Hehehehe! 🙂

Mas meus amáveis espectadores [leitores], perdoai o espírito pouco altanado que a ousadia teve de evocar tal assunto em tão ridícula armação. – Shakespeare, no Prólogo de Henrique V.

Ah! Bernard Cornwell! Meu querido, Bernard Cornwell! Que bom que você existe e escreve livros como o Azincourt. Como eu poderia viver sem as imagens, os personagens e as referências riquíssimas de seus romances? Valeu, Bê! Falta ler o 6º volume do Uthred (As Crônicas Saxônicas), O Forte, O Condenado e a série de 20 e poucos livros do Sharpe. Fora o novo livro com o arqueiro Thomas de Hookton, “1356“. Um dia chego lá.

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Guia Ilustrado WebDebee para Azincourt

Documentários

A História de Azincourt, por Bernard Cornwell 

Nada como o autor para apresentar seu livro. No caso de Cornwell, sua experiência como jornalista de TV torna a missão impecável. Nesse vídeo promocional de “Azincourt”, ele constrói um panorama da época dos eventos históricos que formam o tema do romance.  Uma ótima introdução ao mundo de Azincourt para quem ainda não leu.

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Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War

Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War é um documentário bonzaço da BBC, produzido em 2013. A apresentadora viaja pela França e Inglaterra para contar como foi a história da Guerra dos Cem Anos, entrevistando especialistas e exibindo os locais que foram cenários das batalhas e eventos importantes do conflito, cujos personagens oscilaram entre resgatar e ignorar os códigos de conduta cavalheiresca. No Episódio 2 é contada a batalha de Azincourt e a vida de Henrique V.

Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War é apresentado pela Dra. Janina Ramirez.

Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War é apresentado pela Dra. Janina Ramirez.

Siga os links abaixo para assistir via Youtube.

Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War, Episode 1 – YouTube (58:36)

Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War, Episode 2 – YouTube (58:49)

Chivalry And Betrayal: The Hundred Years War, Episode 3 – YouTube (59:05)

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Agincourt’s Dark Secrets – Battlefield Detectives

Produzido em 2003 pelo Channel 5 junto com o Discovery, o documentário investiga a batalha com a ajuda de experts em arco e flecha, história, geologia, dinâmica de multidões (crowds dinamics), arqueologia, estratégia militar e engenharia, e faz algumas descobertas sobre as condições topográficas do campo de batalha, a eficiência do arco longo no conflito e seu efeito sobre armaduras de aço (eles até encontram uma autêntica ponta de flecha no terreno original da batalha) e a desvantagem de usar armadura para se deslocar pela lama grudenta. Traz também uma demonstração de um programa de computador que simula o que teria sido a confusão da multidão apertada no corredor do campo de batalha. “A crowd disaster.”

Um dos especialistas que colaboram com o documentário é a Professora Anne Curry, uma das autoras referenciadas por Cornwell em sua pesquisa sobre Azincourt. Anne exibe as listas de pessoas que participaram dos exércitos inglês e francês, que atestam a desproporção entre os mesmos (7 mil homens do lado inglês contra cerca de 20 mil franceses) e comenta as razões econômicas da formação do exército contratado pelos ingleses (com um contingente grande de arqueiros pois eram eficazes e baratos…).

Professora Anne Curry desenrola a lista de combatentes dos exércitos inglês e francês.

Professora Anne Curry desenrola a lista de combatentes dos exércitos inglês e francês.

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Discovery Knowledge – Great Battles: Agincourt

Este documentário faz uma reconstituição dramática da campanha de Henrique V, desde o terrível sítio de Harfleur até a vitória em Azincourt. Também aborda o poder estratégico do arco longo e as técnicas dos arqueiros ingleses em batalha. De acordo com esta produção, a França tinha um exército 6 vezes maior que o da Inglaterra.

Cavaleiro francês se complica com as flechas inglesas

Cavaleiro francês se complica com as flechas inglesas

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La bataille d’Azincourt – 1415 – Un vendredi en enfer

Esse documentário do canal francês Arte, conta a história através de personagens da batalha: um cavaleiro e um duque franceses, um arqueiro inglês, um mercenário escocês a serviço da coroa inglesa e um padre inglês que registra os acontecimentos da guerra. A historiadora Juliet Barker, outra fonte de pesquisa de Cornwell, participa do programa. Segundo esse documentário, o exército da Inglaterra era 4 vezes inferior ao da França.

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War Walks: Agincourt (BBC 1996)

O apresentador, Richard Holmes, passeia pelos cenários da campanha de Henrique, como Harfleur, as ruínas do castelo de Arques, as margens do Somme e a cidade de Agincourt, narrando os acontecimentos que culminaram com a grande batalha de ingleses e franceses em 1415. Holmes ainda experimenta uma armadura completa e algumas armas da época e sente o drama dos homens-de-armas debaixo de quilos de aço.

http://www.youtube.com/watch?v=XnjKkOfLA_0

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Reconstituição da batalha

É um registro amador, mas vale para ter uma ideia dos eventos que reconstituem a batalha de Azincourt.

Reconstitution bataille Azincourt 2009 partie 1 par la Guerre des Couronnes

Reconstitution bataille Azincourt 2009 partie 2 par la Guerre des Couronnes

Reconstitution bataille Azincourt 2009 partie 3 par la Guerre des Couronnes

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Cinema e TV

We few, we happy few, we band of brothers

Discurso do rei  – trecho do filme “Henry V (1989)“, de Kenneth Branagh 

Acho que essa é a melhor adaptação da peça de Shakespeare para o audiovisual.

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Henry V, de Lawrence Olivier

Mas o clássico de Olivier também não pode ser desprezado. Afinal, é o grande Olivier que vive o rei inglês e dirige o filme, com seus incríveis planos-sequência.

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The Hollow Crown: Henry V (2012)

Série da BBC que reúne as quatro peças de Shakespeare (Ricardo II, Henrique IV parte 1 e parte 2 e Henrique V), produzida por Sam Mendes. Tom Hiddleton (o Loki, de Thor e Avengers) vive o rei Henrique V.

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Azincourt nas telas: projeto de Michael Mann à vista

Tem pingado umas notícias sobre a adaptação do livro de Bernard Cornwell para o cinema. Michael Mann (que dirigiu O último dos moicanos e Inimigos públicos) deve comandar o filme, que está em fase de desenvolvimento do roteiro. Fico imaginando quem vai interpretar Hook, o rei Henique e Sir John Cornewaille. E também o Sire de L’Enferelle. Medo…

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Livros

As três obras citadas por Cornwell como suas principais referências sobre Azincourt:

Sir John Keegan: The Face of Battle

O historiador milita Sir John Keegan é o autor de uma das principais referências de Cornwell sobre Azincourt

O historiador militar Sir John Keegan é o autor de uma das principais referências de Cornwell sobre Azincourt

Juliet Barker: Agincourt

Segundo Cornwell, Juliet faz um relato vívido, amplo e envolvente da campanha de Henrique e da batalha de Azincourt.

Segundo Cornwell, Juliet faz um relato vívido, amplo e envolvente da campanha de Henrique e da batalha de Azincourt.

Anne Curry: Agincourt, a New History

Anne Curry: Agincourt, a new history

Cornwell reconhece a importância da obra de Curry, mas questiona a tese sobre a diferença numérica sustentada pela autora.

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Barbara Tuchman: Um Espelho Distante

“A batalha [Agincourt] foi perdida pela incompetência da ordem de cavalaria francesa, e ganha mais pela ação do soldado plebeu inglês do que dos nobres montados.”

Minha referência mais marcante sobre a Guerra dos Cem Anos – e um dos livros que carrego no coração –  é esse Um espelho distante, de Barbara Tuchman. Um calhamaço de 619 páginas cheias de personagens incríveis, muita ação, suspense e fortes emoções. Embora seja divertido como um super pop best seller, a obra não é de ficção. Mas conta simplesmente com o jeito inigualável da autora de narrar acontecimentos históricos. Recomendo fortemente. Só está fora de catálogo no Brasil, mas tem em sebos (procure na Estante Virtual). Ou na Amazon (busque a edição da  Ballantine Books de A Distant Mirror: The Calamitous 14th Century by Barbara W. Tuchman).

A partir da vida de um personagem da época, Sire Eguerrand de Coucy, Barbara Tuchman retrata o “terrível século 14”. O título Um Espelho Distante foi escolhido pela historiadora e escritora americana para indicar as semelhanças do então século XX (o livro foi editado em 1978) com o século da Guerra dos Cem Anos, da Peste Negra, de Chaucer, Bocaccio e Petrarca e do Cisma Papal, para citar algumas das referências mais relevantes. A obra de Tuchman é uma viagem saborosa por um dos períodos mais fascinantes e terríveis da história da humanidade. Como sempre, os conflitos e as doenças marcam épocas de transformações fundamentais. O impacto da guerra e da peste iriam mudar a visão sobre o papel da igreja e da nobreza e pavimentar o caminho em direção à era do Humanismo e à revolução do Renascimento. Outros livros de Barbara são A Marcha da Insensatez (discute as atitudes imprudentes de governantes diante de conflitos desde Tróia até o Vietnã), O Telegrama Zimmerman (sobre a entrada dos EUA na 1ª Guerra Mundial), A Torre do Orgulho (sobre o período de 1890 a 1914) e Canhões de Agosto (outro sobre a I Guerra e que foi recomendado por J. F. Kennedy).

Barbara Tuchman; Um Espelho Distante - O terrível século XIV (Skoob)

Barbara Tuchman; Um Espelho Distante – O terrível século XIV (Skoob)

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William Shakespeare: Henrique V

“Nós, poucos; nós, os poucos felizardos; nós, pugilo de irmãos! Pois quem o sangue comigo derramar, ficará sendo meu irmão. Por mais baixo que se encontre, confere-lhe nobreza o dia de hoje. Todos os gentis-homens que ficaram na Inglaterra julgar-seão malditos por não terem estado aqui presentes, o hão de fazer idéia pouco nobre de sua valentia, quando ouvirem alguém dizer que combateu conosco neste dia de São Crispiniano.”

(William Shakespeare: Henrique V, Ato IV, Cena III)

O grande mestre da língua inglesa e gênio universal foi em grande parte responsável pela mitificação da figura de Henrique V. É quase impossível não associar o personagem histórico ao retratado por Shakespeare. E as adaptações para o cinema e TV só reforçaram o mito. Difícil não pensar em Laurence Olivier ou Kenneth Brannagh falando às tropas inglesas no dia de São Crispim e São Crispiniano.

William Shakespeare

William Shakespeare

A peça Henrique V pode ser lida em português no site ShakespeareBrasileiro.org

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Artigos

Recomendo o artigo “Azincourt – Ingleses, esta noite jantaremos no inferno“, de Daniel John Furuno, para o Jovem Nerd. É muito abrangente e bem escrito.

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Glossário Ilustrado de Azincourt

Acha d’armas

“Alguns optavam por carregar um machado, além do arco, mas a maioria, como Hook, preferia a acha d’armas.”

Tipo de machado, a acha-de-armas podia ter uma das pontas afiladas, utilizada para perfurar.

Fonte: http://oscavaleirosdesantiago.blog.terra.com.br/glossario/

Acha é um vocábulo da língua portuguesa, que traduz o nome de uma antiga arma de forma semelhante à de um machado que pelos séculos ficou associado como Timbre da Nobreza de origem militar. Era uma arma usada em épocas medievais em alturas de guerra, com corte por um lado e, por outro, um bico curvo muito aguçado, feito da mesma forma que o machado de cortar lenha, para desarmar o inimigo, rompendo-lhe as armaduras que lhe protegiam o corpo. Se o cabo era comprido e terminado em ponta e a cabeça se prolongava em forma de bico na parte oposta à folha, que tomava a forma de meia-lua, recebia o nome de alabarda.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Acha

Acha d'armas

Acha d’armas

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Arco longo

“Virou-se e baixou o arco a ponto de deixá-lo na horizontal, à sua frente, encostou a flecha na madeira e prendeu-a com o polegar esquerdo enquanto segurava a corda. Girou o arco longo para cima enquanto a mão direita  segurava a extremidade emplumada da flecha e puxou-a, junto com a corda.”

O arco longo inglês, também chamado de arco longo galês, é um tipo poderoso de arco longo (considerado alto para os padrões da modalidade) com aproximadamente 6 pés (1,83m), usado pelos ingleses e galeses para caça e como arma de guerra na idade média. O uso do arco longo pelos ingleses foi bastante efetivo contra os franceses durante a Guerra dos 100 Anos, particularmente no início do conflito, nas batalhas de Crécy (1346) e Poitier (1356), e na famosa Batalha de Azincourt (ou Agincourt), em 1415. O material preferido para a confecção do arco longo inglês era a madeira de teixo (yew), embora também fossem usados o ash e o elm. A corda (bowstring) era feita de cânhamo, linho ou seda, e fixada ao arco através do engaste. Uma grande variedade de flechas eram utilizadas para disparar com o arco longo inglês. Variações de cumprimento, aletas e pontas. Flechas de guerra eram encomendadas aos milhares para abastecer exércitos e navios medievais, fornecidas em aljavas normalmente com 24 unidades. Por exemplo, é sabido que, entre 1341 e 1359, a coroa inglesa adquiriu 51.350 aljavas (1.232.400 flechas).

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/English_longbow

Componentes do arco:

  • corda (string)
  • engaste (nock) para fixação na corda do arco
  • costa (back)
  • empunhadura (grip)
  • face ou barriga (belly)
English longbow

English Yew longbow (foto de James Cram – Wikimedia Commons)

  

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Aríete

Um aríete é uma máquina de guerra muito empregada na Idade Média para derrubar, quebrar ou abrir portões ou muros de fortificações. Em sua forma simples, o aríete era simplesmente um grande e pesado tronco de árvore carregado por um grupo de pessoas e empurrado com força contra um obstáculo. O uso do aríete podia ser suficiente para danificar o alvo quando impulsionado com a força e velocidade adequadas. Em versõs tardias, o tronco era protegido das flechas e de fogo por um gabinete apoiado em rodas. Dentro do gabinete, o troncho era movimentado através de correntes ou cordas suspensas.

Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ar%C3%ADete e http://en.wikipedia.org/wiki/Battering_ram

Attack on the Walls of a besieged Tower (Wikipedia)

Attack on the Walls of a besieged Tower (Wikipedia)

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Armadura de placas

“O peitoral e a placa das costas vieram em seguida, as peças mais pesadas, feitas de aço de Bordeaux, como o resto da armadura, e Cartwright prendeu habilmente as fivelas, depois prendeu os rebraços, que cobriam a parte superior dos braços de Sir John, os guarda-braços para os antebraços , mais rondéis para os cotovelos e depois, com uma reverência, ofereceu a Sir John  as manoplas cobertas de placas que tinham as palmas de couro cortadas de modo que Sir John pudesse sentir o punho das armas com as mãos nuas.”

Ela protegia os homens de armas nas batalhas e torneios medievais. Mas também podia prejudicar o desempenho dos combatentes (ou mesmo ser sua ruína total) quando, por exemplo, o local do conflito está cheio de lama… Podiam pesar tipo 30, 50 quilos.

Os formatos eram muito variados, contendo menos ou mais peças de aço e diversos elementos de articulação para proteger o homem-de-armas dos pés à cabeça.

A armadura mais comum nos tempos da batalha de Azincourt é a feita de placas metálicas, como, por exemplo, a da ilustração abaixo.

Componentes básicos da armadura (How Stuff Works)

Componentes básicos da armadura (How Stuff Works)

Confira abaixo alguns componentes básicos da armadura medieval.

Elmo ou capacete (helmet) – parte essencial das armaduras, que protegia a cabeça dos guerreiros das investidas de espadas, lanças, flechas e até de machados.

Espaldeira (pauldron) – parte da armadura que protege o ombro, abrangendo desde o ombro até encontrar a manopla.

Gorget – Peça de aço que protege as partes da frente e de trás do pescoço e também cobre parte da clavícula e do externo.

Rebraços (Upper Vambrce) – Para proteger a porção superior do braço.

Peitoral (Breastplate) – Protege o torso do homem-de-armas.

Rondel (Cowter) – Se encaixa entre o rebraço e o garda-braço para proteger e manter articulado o cotovelo.

Guarda-braços (Lower Vambrace) – Protege a metade inferior do braço.

Coxotes (Tasset) – Para proteger as coxas do guerreiro.

Manopla (Gauntlet) – Luva que cobre desde os dedos da mão até o antebraço. Pode ser feita de diversos materiais, inclusive de placas de metal articuladas.

Pernas (Cuisse) – Parte da armadura que protege a parte superior da perna e é colocada abaixo dos coxotes e presa sobre as grevas.

Joelheira (Poleyn) – Obviamente protege o joelho, mantendo a articulação.

Grevas (Greaves) – Elementos que protegem a parte inferior das pernas, dos joelhos aos tornozelos.

Escarpe (Sabaton) – Para cobrir o pé. A ponta curvada era necessária para não deixar o pé deslizar do estribo.

Veja outros guias de armaduras nos links abaixo.

Guilda dos Armoreiros

Medieval Armour – A brief guide

Medieval Warfare – Weapons

Wikipedia – Components of Medieval Armour

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Auriflama

“Um breve raio de sol brilhou no centro da linha deles, e Hook viu a auriflama, o estandarte vermelho bifurcado que anunciava aos franceses que não deveriam fazer prisioneiros. Era para matar todo mundo.”

Do latim, Aurea Flamma, a Auriflama ou Oriflamme era o estandarte de batalha do rei da França na Idade Média. Originalmente era o banner sagrado da Abadia de St. Denis (santo padroeiro do exército francês). De acordo com a lenda, Carlos Magno carregou a Oriflamme até a Terra Santa em resposta a uma profecia que descrevia um cavaleiro possuidor de uma lança dourada cujas chamas queimariam e baniriam os sarracenos. Quando a Oriflamme era exibida em batalha, indicava que não haveria clemência. Nenhum inimigo deveria ser poupado. Sua cor vermelha simbolizava crueldade e ferocidade. Embora o campo azul coberto de flores-de-lis douradas permanecesse como símbolo da realeza francesa até o século 15, a Oriflamme tornou-se o estandarte de batalha do rei da França e era carregado à frente das forças reais quando estas encontravam outro exército em campo. O porte-oriflamme era o oficial portador do estandarte. Era uma atribuição de grande honra, porém muito perigosa, já que implicava em forte exposição na batalha. Se as coisas ficassem complicadas, o portador poderia até morrer, porém jamais abandonar sua missão de carregar o símbolo real. Na batalha de Azincourt, o porte-oriflamme foi Guillaume de Martel, o Seigner de Bacqueville, que morreu no conflito carregando o estandarte. As cores da bandeira da França fazem referência ao azul da capa de St. Martin (que inspirou o motivo da flor-de-lis sobre o campo azul da dinastia Valoir), o vermelho da insígnia de St. Dennis (Oriflamme) e o branco da cruz que adornava o estandarte real adotado por Carlos VII e Joana D’Arc na guerra contra a Inglaterra alguns anos depois de Azincourt.

Fontes: Wikipedia  e www.traditioninaction.org

Réplica da auriflama que pode ser vista na Igreja de São Denis em Paris

Réplica da auriflama que pode ser vista na Igreja de São Denis em Paris

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Aventail

“Alguns homens usavam um aventail de malha para cobrir o espaço entre o elmo e o peitoral (…).”

Um aventail é uma cortina flexível de malha afixada ao capacete que cobre o pescoço e os ombros do guerreiro de armadura. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Aventail

Aventail (Windrosearmoury.com)

Aventail (Windrosearmoury.com)

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Azincourt ou Agincourt

“Novecentos homens de armas e cinco mil arqueiros chegaram ao campo de Azincourt ao amanhecer, e do outro lado, além dos sulcos fundos do arado, feitos para receber o trigo do inverno, trinta mil franceses esperavam.”

A origem do nome Azincourt (ou Agincourt) remonta a 1175 como Asincurt, que é derivado de um nome germânico masculino “Aizo ou Aizino” e do termo do francês antigo “curt” que significa fazenda com um pátio.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Azincourt

Na atual Azincourt podem ser feitos passeios para conhecer o local original da batalha retratada no romance de Cornwell. A cidade abriga um museu (Centre Historique Médiévale d’Azincourt) sobre a história do conflito que marcou a Guerra dos Cem Anos e eventos que reconstituem a batalha.

Azincourt

Azincourt (Wikipedia)

E tem a fonte Agincourt.

Fonte Agincourt

Fonte Agincourt

E tem um carol ou canção popular da época.

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Barbacã

“Bastaria derrubar aquela barbacã e o exército poderia atacar a brecha do lado da porta sem qualquer perigo de ser atacado no flanco pela guarnição da barbacã.”

A barbacã (do latim medieval “barbacana”), em arquitectura militar, é um muro anteposto às muralhas, de menor altura do que estas, com a função de defesa do fosso de uma fortificação, onde era oferecida a primeira resistência ao agressor. Também denomina uma fresta na muralha, aberta para possibilitar o tiro sobre o inimigo.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Barbacã

Obs: tem um erro tipográfico (creio eu) na edição brasileira de Azincourt. Num dos mapas que ilustram o livro, aparece o termo Barbacã (traduzido de Barbican, em inglês) escrito como “Barbaça” (com C cedilha).

Castelo de Santiago do Cacém - muralha, torre e barbacã (By Adriao. Creative Commons via Wikimedia Commons).

Castelo de Santiago do Cacém – muralha, torre e barbacã (By Adriao. Creative Commons via Wikimedia Commons).

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Balista

“Trincheiras defendiam os sitiantes dos canhões e dos springolts inimigos, mas havia uma pequena defesa contra a balista que lançava pedras para o alto de modo a caírem quase verticalmente.”

A balista (Latim: ballista; derivado do grego: ballistēs) era uma máquina de guerra da antiguidade que atirava dardos. Um tipo de artilharia anterior à pólvora, usada principalmente contra homens em formação. Era um grande arco montado em posição lateral. Utilizava um guincho e uma catraca para criar a tensão do arco. Geralmente o projétil era uma grande lança de metal ou de madeira com a ponta de metal. Atirados contra uma massa de pessoas a distâncias de até 300 metros, as lanças podiam incapacitar diversos inimigos.

A principal função das balistas era derrubar cavalarias (mata-cavalos) e máquinas de cerco (ferramentas que ajudam num cerco à fortaleza, como trabucos, catapultas, aríetes, entre outros. Diferentemente dos arcos normais, as balistas funcionavam como uma besta gigante, mas sua forma de tiro não era arcal (atirar ao alto para que a flecha/dardo/seta caia), e sim horizontal (disparo reto, para que pudesse acertar mais de um alvo).

As balistas podiam ser colocadas em montagens fixas em muralhas ou navios ou em montagens com rodas para utilização em campos de batalha. Não eram muito eficientes contra muralhas e edificações fortificadas.

A balestra, ou besta, é o nome dado a uma balista ligeira.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Balista. Mais informações em: http://en.wikipedia.org/wiki/Ballista

A Ballista {{PD-USGov-Military-Air Force}} (Wikipedia)

A Ballista {{PD-USGov-Military-Air Force}} (Wikipedia)

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Batalha de Azincourt

“Eu os trouxe a este lugar – disse agora com voz mais baixa, porém intensa – a este campo na França, mas não irei deixá-los aqui! Sou, pela graça de Deus, o seu rei – sua voz se elevou -, mas neste dia não sou mais do que vocês e não sou menso do que vocês. Neste dia luto por vocês e lhes entrego minha vida!”

Motivo do romance Azincourt de Bernard Cornwell, esse famoso conflito ocorrido em 25 de outubro de 1415, dia de São Crispim e São Crispiniano, marcou o período final da Guerra dos Cem anos entre França e Inglaterra. A batalha concluiu uma campanha dos ingleses que reclamavam seu direito sobre o território francês. O embate inspirou uma das obras primas de Shakespeare: a peça Henrique V.

REI HENRIQUE – Qual o nome do castelo que se alça qui bem perto? MONTJOY – Azincourt. REI HENRIQUE – Chamaremos, então, a este combate, batalha de Azincourt, ganha com glória no dia de Crispim Crispiniano.

Azincourt foi uma briga suja, sangrenta e caótica. Mas tornou-se uma das batalhas mais estudadas e referenciadas pelos conhecedores de estratégia militar. O placar foi uma das maiores zebras da história. Os ingleses (embora as fontes históricas não sejam convergentes em termos de números precisos) estavam em grande inferioridade numérica. Porém a presença do rei Henrique liderando seu exército e a ausência de uma autoridade estratégica no lado francês (o rei Carlos VI tinha uma doença mental e seus príncipes e generais não se entendiam) foram decisivas para a vitória inglesa. Azincourt também será lembrada por confirmar a importância do arco longo para a estratégia inglesa em oposição ao uso da besta (ou balestra) pelo exército francês. Os arqueiros eram os franco-atiradores da época medieval. Em 2015 tem comemoração dos 600 anos da batalha. Veja mais no site Azincourt Alliance.

Azincourt (www.britishbattles.com)

Azincourt (www.britishbattles.com)

Bataille d'Azincourt (www.francegenweb.org/)

Bataille d’Azincourt (www.francegenweb.org/)

Vista do local da batalha de Azincourt (Wikipedia)

Vista do local da batalha de Azincourt (Wikipedia)

Posições das tropas francesas e inglesas na batalha de Azincourt (http://www.tournemire.net)

Posições das tropas francesas e inglesas na batalha de Azincourt (http://www.tournemire.net)

 

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Besta

“Os primeiros besteiros inimigos apareceram naquela fumaça, cada qual protegido por um companheiro que segurava um grosso pavise, um escudo de largura suficiente para esconder um homem enquanto reengatilhava a besta depois de disparar cada seta.”

A besta, balesta ou balestra é uma arma com a aparência de uma espingarda, com um arco de flechas acoplado no lado oposto da coronha, acionada por gatilho, que projeta dardos similares a flechas, porém mais curtos. A palavra besta, que deriva do latim tardio ballista, deu origem às armas de guerra que são a balista e a besta. Besteiro é o nome dado a um soldado armado com uma besta. A uma besta fixa e pesada chama-se balista. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Besta_(arma)

Besteiro, desenho por Viollet-le-Duc (Wikipedia)

Besteiro, desenho por Viollet-le-Duc (Wikipedia)

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Borgonha

“Os ingleses tinham atravessado o rio e agora haviam entrado em território reivindicado pelo duque da Borgonha, porém ainda era a França.”

Borgonha (em francês: Bourgogne) é uma região administrativa da França, que foi habitada por Celtas da tribo dos Gauleses, Romanos e Galo-Romanos, e vários povos Germânicos, dentre os quais os mais importantes foram os Burgúndios (donde deriva o seu nome atual, através de uma forma medieval Burgúndia) e os Francos. Os Burgúndios têm possivelmente origem escandinava. O Ducado da Borgonha foi um dos estados mais importantes da Europa medieval, independente entre 880 e 1482. Não deve ser confundido com o condado da Borgonha (1), outro território da França. O feudo do duque da Borgonha correspondia aproximadamente à atual região da Borgonha. Graças à sua riqueza e território vasto, este ducado foi política e economicamente muito importante. Tecnicamente vassalos do rei de França, os duques da Borgonha souberam conservar a autonomia, manter uma política própria e ser suseranos de diversos condados e senhorios, incluindo o condado da Borgonha (actual Franche-Comté). O ducado também incluía Artois, Flandres e Brabante, na actual Bélgica. Na ocasião da Batalha de Azincourt e da sucesão do rei Carlos VI, o duque João, da Borgonha, aliou-se aos ingleses, numa demonstração clara da disposição dos borgonhenses em lutar por seus próprios interesses.

(1) O Condado da Borgonha ou Franco Condado era uma casa feudal da Europa medieval, tradicionalmente vassala do Sacro Império Romano-Germânico. Tinha a capital em Dole e era uma entidade distinta do Ducado da Borgonha.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Borgonha
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ducado_da_Borgonha
http://pt.wikipedia.org/wiki/Condado_da_Borgonha
https://en.wikipedia.org/wiki/County_of_Burgundy

Armas dos duques da Borgonha, incluindo a flor de lis de Valois e as listas dos Capetos (Wikipedia).

Armas dos duques da Borgonha, incluindo a flor de lis de Valois e as listas dos Capetos (Wikipedia).

Ducado (esquerda) e Condado (direita) da Borgonha no século 14 (Wikipedia)

Ducado (esquerda) e Condado (direita) da Borgonha no século 14 (Wikipedia)

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Bota-fogos

“Os artilheiros holandeses esperavam, com os bota-fogos a postos.”

Haste com um pavio com o qual o artilheiro detonava os canhões. bota-fogo \ô\  substantivo masculino ( 1561) 1 mil ant. pau provido de morrão com o qual o artilheiro ateava fogo à pólvora da boca de fogo; lança-fogo 2 p.met. mil o artilheiro que o fazia, utilizando esse pau; lança-fogo Fonte: Dicionário Houaiss online

Para saber mais sobre canhões, acesse http://en.wikipedia.org/wiki/Cannon

Detonando a bombarba

Detonando a bombarba

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Broquel

Escudo arredondado, de pequenas dimensões, bastante característico das tropas muçulmanas, embora fosse utilizado por ambos os lados.

Fonte: http://oscavaleirosdesantiago.blog.terra.com.br/glossario/

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Canhão

“- Nunca viu um canhão? – Nunca. – Vai ver agora – disse o segundo, sério. Hook também nunca tinha visto um canhão, e se encolheu quando um segundo disparou acrescentando sua fumaça fedorenta no céu de verão.”

Sendo a pólvora desconhecida na Europa até ao século XIII, é provável que os ocidentais nunca tivessem usado o canhão antes. Com a descoberta das capacidades propelentes da pólvora foi possível o desenvolvimento dos canhões. Inicialmente os canhões eram de ferro forjado, pequenos e rústicos, pois a arte de fundir achava-se ainda nos primórdios. Tempos mais tarde passaram a ser fabricados com barras de ferro fundido soldadas e reforçadas com anéis do metal. A sua capacidade de lançamento ainda era diminuta, e empregavam-se por isso projéteis de pedras leves para alcançar maiores distâncias. Nesta época, para aumentar a potência de fogo, os antigos canhões, chamados «órgãos da morte», eram colocados lado a lado, sobre um reparo-plataforma. Podiam assim ser disparados ao mesmo tempo ou separadamente, em sucessão rápida, o que faz deles precursores das modernas metralhadoras, pelo menos em conceito.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Canhão

Early cannon (1326). De Nobilitatibus Sapientii Et Prudentiis Regum Manuscript. Walter de Milemete. Wikipedia.

Early cannon (1326). De Nobilitatibus Sapientii Et Prudentiis Regum Manuscript. Walter de Milemete. Wikipedia.

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Carlos VI

“- E o rei francês é louco – dissera Henry de Calais a Hook na Inglaterra. – É louco feito um furão manco, o desgraçado idiota acha que é feito de vidro. Tem medo de alguém lhe dar um tapa e ele se partir em mil pedaços.”

Carlos VI de Valois, chamado O Louco, foi o rei da França entre 1380 e 1422. Filho de Carlos V, conhecido como o Sábio, e de Joana de Bourbon, Carlos VI herda o trono aos 12 anos, após a morte do pai, sendo auxiliado por um conselho formado por seus tios, os duques de Borgonha, Anjou, Berry e Bourbon, até atingir a maioridade, em 1388. Os primeiros sinais de demência surgiram em 1392, quando tinha 24 anos. As sucessivas crises do rei abriram espaço para a disputa de poder entre os duques de Borgonha, de Berry e de Orleáns (irmão de Carlos). Na ocasião da Batalha de Azincourt viveu um dos momentos mais difíceis da realeza francesa. Os ingleses tomaram posse do norte do país e boa parte da aristocracia francesa foi dizimada ou tomada como refém. Aproveitando a loucura do rei e as divergências entre os duques, o monarca inglês Henrique V, junto com seus aliados borgonhenses, conseguiu impor o tratado de Troyes, por intermédio do qual obtinha a mão da princesa Catarina de Valois, deserdava o Delfim Carlos (Catarina e Carlos eram filhos legítimos do rei francês com Isabel da Baviera) e tornava o filho de Henrique com Catarina o futuro herdeiro do trono da França (Henrique VI). Ao morrer em 1422, a França passou a ter dois reis legítimos. O jovem Henrique VI reinava sobre Paris e o norte da França, baseando sua legitimidade sobre o Tratado de Troyes e sendo representado por seu tio João de Lancaster. Enquanto que Carlos VII de Valois regia o centro e o sul, mas com pouco apoio. Essa situação se manteria até uma série de eventos que envolvem o surgimento de Joana D’Arc. Mas esse é um outro capítulo dessa história.

Fontes:

http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RFCarl06.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_VI_de_França

http://www.france.fr/pt/homens-e-mulheres-excepcionais/carlos-vi-o-louco-1368-1422

Carlos VI da França (Wikipedia)

Carlos VI da França (Wikipedia)

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Casula

“Hook pedia a Deus que o rei estivesse certo, enquanto voltava para se ajoelhar diante do padre Christopher, que vestia um manto preto sacerdotal sobre o qual usava uma casula suja de lama e bordada com pombos brancos, cruzes verdes e os leões vermelhos de Conrewaille.”

A Casula é uma veste litúrgica que pode ser confeccionada em seda ou damasco (tradicionalmente), em paramentos do século XVII e/ou XVIII. As cores variam conforme o rito litúrgico.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casula

Casula de Santo Estevão (Museu de Alberto Sampaio, Portugal)

Casula de Santo Estevão (Museu de Alberto Sampaio, Portugal)

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Catapulta

“Os ingleses tinham suas próprias catapultas, feitas com a madeira cortada nas encostas acima do porto, e essas máquinas faziam chover pedras e cadáveres podres de animais dentro de Harfleur.”

Catapultas são mecanismos de cerco que utilizam uma espécie de braço para lançar um objeto (pedras e outros)a uma grande distância, evitando assim possíveis obstáculos como muralhas e fossos. Fora criado possivelmente pelos gregos, durante o reinado de Dionísio I1 , como arma de guerra. O nome é derivado do grego καταπάλτης, composto de κατά “abaixo, contra” e πάλλω “vibrare”. Originalmente, a palavra catapulta referia-se a um lançador de pedras, enquanto balista referia-se a um lançador de dardos, porém, através dos anos, os dois termos trocaram de significados. Catapultas eram usualmente montadas no lugar do cerco, e um exército carregava algumas ou nenhuma de suas peças consigo porque madeira era bastante disponível no lugar.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Catapulta

Réplica de uma catapulta em Château des Baux, França (Wikipedia)

Réplica de uma catapulta em Château des Baux, França (Wikipedia)

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Centenar e vintenar

“O que é um centenar? – Como Peter Goddington? É só um homem que comanda arqueiros. – E um vintenar? – Bom, um centenar comanda um monte de arqueiros, talvez uma centena. E um vintenar é encarregado de talvez uns 20. São todos sargentos.”

Os contingentes dos exércitos ingleses medievais eram organizados em grupos de 20, 100 e 1000 homens. Nesse esquema, 19 homens eram comandados pelo 20º, chamado vintenar. Cinco dessas unidades (ou seja, 5 X 20 = 100 homens) eram comandadas pelo centenar.  Para ler mais sobre a organização dos arqueiros medievais ingleses, acesse The Medieval Archer, de Jim Bradbury. Leia mais também em English Troops e em A muster of the Norwich militia.

Arqueiros medievais (blog Mundo tentacular)

Arqueiros medievais (blog Mundo tentacular)

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Cerne e Alburno

“Deus fez o arco, dissera uma vez um padre na igreja da aldeia de Hook, assim como Deus fizera o homem e a mulher. O padre visitante quisera dizer que Deus havia casado o cerne com o alburno, e era esse casamento que tornava o grande arco de guerra tão mortal.”

Na estrutura das árvores, o cerne corresponde à porção mais escura de madeira no centro, enquanto que o alburno é a porção mais clara na parte externa. O cerne é constituído por células mortas, formando uma estrutura mais ou menos enrijecida de suporte, em torno da qual o alburno se vai progressivamente formando. É valorizado pela sua dureza e resistência ao ataque por insetos. A madeira de cerne é em geral preferida para usos em que se requeira durabilidade e resistência mecânica.

O alburno, ou borne, é a porção viva ao longo da qual se processa a circulação de água e de nutrientes entre a raiz e a os tecidos ativos da planta. É formado por madeira comparativamente nova, compreendendo as células vivas da árvore em crescimento. O borne fino é uma característica de árvores como castanho, robínia, amoreira, laranjeira-dos-osage e sassafrás. Em árvores como ácer, freixo, nogueira, ulmeiro, faia e pinho, o borne espesso é a regra.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Madeira

Corte de um tronco de teixo, mostrando o cerne (no interior), o alburno (parte mais clara) e a medula (ponto escuro no centro). As pequenas linhas radiais são os nós.

Corte de um tronco de teixo, mostrando o cerne (no interior), o alburno (parte mais clara) e a medula (ponto escuro no centro). As pequenas linhas radiais são os nós.

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Cota de malha

“O francês ferido gemeu e puxou as pernas para cima. Não estivera usando armadura, não ser uma cota de malha curta e sem mangas (…)”

Traje de combate típico da Idade Média, elaborado com pequenos aros de metal entrelaçados entre si. Vestimenta de alto custo, era utilizada majoritariamente pela nobreza e mercenários abastados. No século XII, predominava a cota de malha de corpo inteiro, que protegia desde a cabeça até os pés.

Fonte: http://oscavaleirosdesantiago.blog.terra.com.br/glossario/

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Dedos de arqueiros

“- Nossos inimigos ameaçaram cortar os dedos de cada inglês que retesa um arco!”

Uma possível origem do gesto obsceno de erguer o dedo médio, como vemos no Brasil, EUA e França, ou o médio e o indicador juntos (mais comumente usado na Inglaterra e Irlanda – sempre com a palma da mão virada para dentro, pois com ela virada para fora os dois dedos formam o símbolo da vitória, OK?) é a lenda que conta que na Guerra dos Cem Anos os franceses ameaçavam cortar os dedos dos arqueiros ingleses, o que os impossibilitaria de manejar o arco e flecha. Em resposta às ameaças francesas, os arqueiros ingleses exibiam os dedos como provocação, tipo: “Aê, mané! Ainda tenho meus dedos!”

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Azincourt

Archer fingers (www.centenaryarchers.gil.com.au)

Archer fingers (www.centenaryarchers.gil.com.au)

Two finger salute

Two finger salute

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Ecúleo

“Foram postos no ecúleo, tiveram pregos cravados sob as unhas e tiveram tiras de carne cortadas, mas nada disso os matou!”

1. Potro ou cavalete de madeira us. como instrumento de tortura.

2. FIG. POÉT. Tormento, flagelo: Viver é o ecúleo da alma. [F.: Do lat. equuleus ou eculeus, i.]

Fonte: iDicionário Aulete

Ecúleo

Ecúleo

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Espada longa

“Os visores estavam fechados e as espadas longas refletiam a luz das chamas.”

A espada longa medieval (em inglês, long sword ou bastard sword ou one and a half sword) era uma arma desenvolvida no século 14. Muito eficiente contra cavaleiros usando armadura de placas, a espada longa podia medir entre 100 e 122 centímetros).

Fonte: http://www.medievalwarfare.info/weapons.htm#longswords

Medieval long sword (MedievalSwords.ws)

Medieval long sword (MedievalSwords.ws)

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Flecha

“Com ponta de aço, amarrada com seda, haste de freixo, morte emplumada voando no silêncio da tarde.”

Componentes e acessórios da flecha:

Ponta de flecha (arrow head) – As pontas eram feitas de metal e podiam ter diversos formatos. Entre eles, o  bodkin (ponta furadora ou passadora: tipo de ponta comprida e afiada, como uma pequena ponta de lança, que, segundo a lenda urbana da época, podia perfurar até a armadura do oponente) e 0 broadhead (ponta larga: normalmente composta de 2 lâminas afiadíssimas que causavam forte sangramento na vítima. Sua função era matar o mais rápido possível. Eram mais caras, e feriam mais alvos).

Rêmiges ou aletas (fletching) – Parte da empenagem da flecha, feita mais comumente com penas de ganso.

Aljava (sheaves) – E não podia faltar a bolsa para carregar flechas. Normalmente era pendurada sobre o ombro ou a tira-colo do arqueiro

Flecha moderna (alto) e réplica de flecha medieval (baixo). Photo de James Cram (Wikipedia)

Flecha moderna (em cima) e réplica de flecha medieval (abaixo). Photo de James Cram (Wikipedia)

Réplicas de pontas de flechas expostas no museu Emhisarc em Crécy-en-Ponthieu, França

Réplicas de pontas de flechas expostas no museu Emhisarc em Crécy-en-Ponthieu, França

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Fosso

“Foram necessários apenas dois dias para que a face externa da muralha desmoronasse no fosso largo e fétido, e então os artilheiros aumentaram sistematicamente a brecha enquanto os borgonhenses respondiam fazendo uma barricada semicircular atrás da muralha que se desintegrava.”

Em inglês, moat. Um fosso (do latim “fossa”), em arquitetura militar, é uma escavação profunda e regular, destinada a impedir ou dificultar o acesso do agressor à linha de defesa de uma fortificação. Os fossos costumavam ser escavados ao redor dos castelos, cidades e fortificações medievais e enchidos com água, tornando-se, assim, obstáculos para a aproximação de torres de sítio e de aríetes junto às muralhas da edificação.

Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fosso e http://en.wikipedia.org/wiki/Moat

The moated manor house of Baddesley Clinton in Warwickshire, England (Wikipedia)

The moated manor house of Baddesley Clinton in Warwickshire, England (Wikipedia)

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Gabião

“Olhando por entre dois gabiões do parapeito meio arruinado, Hook podia ver que a barbacã estava em destroços.”

O gabião era originalmente um sistema defensivo utilizado para proteger rapidamente uma posição do fogo de artilharia ou de balas. Compõe-se de uma espécie de cesto em vime cheio de terra e gravilha, destinado a proteger das balas e amortecer as explosões. Os cilindros de vime eram leves e podiam ser transportados de um modo conveniente num carro de munições, particularmente se fossem feitos em vários diâmetros, de modo a poderem ser inseridos uns nos outros. No local de utilização seriam colocados em posição e cheios de terra para formar um verdadeiro muro em torno do canhão.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabião

Gabiões

Gabiões

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Genealogia dos reis da Inglaterra e da França

“Era [Duque de York] o neto do terceiro Eduardo e primo do segundo Ricardo, cujo trono fora usurpado pelo pai do rei [Henrique].”

Árvore genealógica do conflito sucessório da Guerra dos Cem anos (Wikipedia)

Árvore genealógica do conflito sucessório da Guerra dos Cem anos (Wikipedia)

Aqui tem outro mapa interessante (interativo)

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Guerra dos Cem Anos

“Os franceses tinham antigas lembranças de derrota e odiavam os homens que retesavam o longo arco de guerra. Em Crécy os franceses estavam e número maior do que os ingleses e os encurralaram, e haviam atacado através do vale baixo para livrar o mundo dos invasores desavergonhados, e foram os arqueiros que os derrotaram enchendo o céu com a morte emplumada, derrubando cavaleiros nobres com suas flechas de pontas compridas. Depois, em Poitiers, os arqueiros haviam despedaçado a cavalaria francesa e no fim daquele dia o rei da França era prisioneiro, e todos esses insultos ainda doíam, de modo que não houve misericórdia.”

Na verdade, a guerra durou mais que 100 anos. Entre os anos de 1337 e 1453 (ou seja, por cerca de 117 anos), França e Inglaterra mantiveram-se em constantes conflitos armados. É considerada a primeira grande guerra européia a provocar transformações profundas no continente, do ponto de vista econômico, social e político, marcando o processo de transição do modelo ainda predominantemente feudal para a configuração das grandes nações monárquicas. Entre os fatores que motivaram a Guerra dos Cem Anos estava a disputa pela região de Flandres, que era uma grande produtora de tecidos e um importante centro comercial. Flandres estava ligada à França por laços de vassalagem, porém tinha compromissos econômicos estratégicos com a Inglarerra, que lhe fornecia a lã. Mas também havia o motivo político. Eduardo III da Inglaterra (que era bisavô do Henrique V de Azincourt), reivindicava o trono Francês, com base no fato de ser neto de Felipe IV, o Belo, rei da França e morto em 1328. O único herdeiro sobrevivente de Felipe era Carlos IV, que morreu, deixando oportunidade para seu primo Felipe VI, da casa de Carlos de Valois. Esta sucessão foi contestada por Eduardo III da Inglaterra, filho de Isabel, que era filha de Felipe IV e irmã de Carlos IV. Eduardo pretendia unir os tronos da Inglaterra e da França. Percebe o tamanho da confusão? Mas, como já vimos, esses laços complicados eram só uma desculpa para se reivindicar direitos monárquicos uns dos outros. Enfim, o estopim da Guerra foi em 1337, quando o rei Felipe VI da França confiscou os ducados da Gasconha e da Guiana e o condado de Ponthieu, que eram territórios herdados e controlados por Eduardo III.

Batalha de Crecy (Wikipedia)

Iluminura de um manuscrito do século XV representando Batalha de Crécy (Wikimedia)

A Guerra desenvolveu-se em território francês e durou esse tempo todo em função da força bélica e forte interesse britânico de um lado e a longa capacidade de resistência francesa de outro, apesar das constantes disputas internas da França, onde Armagnacs (nacionalistas) e Borguinhões (pró Inglaterra) se enfrentavam. Os confrontos se davam com pouca frequencia, devido aos altos custos (humanos e econômicos) da guerra, em função de outras questões políticas e religiosas da época, e também por causa da Peste Negra, que dizimou um terço da população do “mundo conhecido” no século IV. Ao longo dos anos, viu-se a evolução das armas (destaque para a catapulta, a besta, o arco longo inglês e os primeiros canhões) e das abordagens utilizadas nos cercos e batalhas.

Os confrontos mais célebres e marcantes foram de Calais (cidade portuária da Normandia que resistiu a um cerco inglês por quase um ano até a população se render faminta em 1347), Crécy (ocorrida em 1346, vencida pelos ingleses e na qual morreram o irmão do rei Felipe VI e cerca de 1500 soldados franceses), Poitiers (em 1356, outra importante vitória inglesa, da qual participou o próprio rei francês João II [sucessor de Felipe VI], que foi feito prisioneiro como garantia para tratados que favoreciam a Inglaterra), Azincourt (1415, última grande vitória inglesa), o cerco de Orleans (entre 1428 e 1429, que foi a virada da guerra a favor da França e que teve participação fundamental de Joana D’Arc) e Castillon (em 1453, quando os franceses derrotaram as tropas inglesas com ajuda de inovadores canhões que podiam ser transportados). Apesar de não ter havido nenhum acordo entre as partes e de alguns conflitos terem ocorrido posteriormente, Castillon é considerado o marco histórico de encerramento da Guerra dos Cem Anos.

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Cem_Anos

http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-foi-a-guerra-dos-cem-anos

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Harfleur

“Agora Hook podia ver mais coisas. Podia ver um rio serpenteando pelos campos ao norte de Harfleur. O rio evidentemente atravessava a cidade, entrando sob um grande arco e fluindo através das casas até se esvaziar no porto murado. Mas os cidadãos de Harfleur , alertados da chegada dos ingleses no dia anterior, deviam ter fechado uma barragem no arco, de modo que agora o rio se inundava espalhando um grande lago ao redor dos lados norte e oeste da cidade. Sob aquel sol da manhã, Harfleur parecia uma ilha cercada de muros.” Por seis séculos, Harfleur foi o principal porto marítimo do nordeste da França. Em 1415, foi capturada por Henrique V da Inglaterra em um episódio que antecipou a batalha de Azincourt e que é retratado por Cornwell em seu romance. O sítio de Harfleur durou mais tempo do que Henrique imaginava e ainda foi prejudicado por uma epidemia de disenteria que atacou o exército inglês, matando soldados, cavaleiros e nobres. Boa parte do contingente teve que voltar para a Inglaterra. O evento é mencionado em uma canção popular da época chamada Agincourt Carol.

Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Siege_of_Harfleur

http://en.wikipedia.org/wiki/Harfleur

Siege of Harfleur - Scene from Henry V., just produced at the Princess's Theatre'

Siege of Harfleur – Scene from Henry V., just produced at the Princess’s Theatre’

Rota de Henrique V passando por Harfleur até Azincourt

Rota de Henrique V passando por Harfleur até Azincourt

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Henrique V

“- Sabe quem é ele, Hook? – perguntou Sir Edward, baixinho. Hook não tinha certeza, mas não era difícil adivinhar que estava vendo, pela primeira vez, o conde de Chester, o duque de Aquitânia e o senhor da Irlanda. Estava vendo Henrique, pela graça de Deus, rei da Inglaterra.”

Henrique foi o segundo monarca da Grã-Bretanha vindo da casa de Lancaster (dinastia Plantageneta). Era chamado também de Henrique de Monmouth por ter nascido no castelo com mesmo nome, no País de Gales. Quando era o Príncipe de Gales (título do herdeiro do trono inglês) teve muitos conflitos com o pai, Henrique IV, embora tenha atuado na repressão de rebeliões para defender o rei, como a revolta dos galeses liderados por Owain Glyndŵr (mencionado no romance de Cornwell).

Com a morte do pai, em 1413, foi coroado rei Henrique V e promoveu uma série de mudanças, além de reprimir diversos conflitos internos e conspirações. Um marco importante de seu reinado foi a instituição do idioma inglês como oficial do governo. Desde a conquista normanda da Inglaterra, a corte falava predominantemente o francês. Em 1415 organizou e liderou o exército inglês na campanha vitoriosa em que invadiu a França pleiteando seus direitos sobre a coroa francesa. Morreu poucos anos depois da Batalha de Azincourt, em 1422, aos 35 anos.

Sua vida foi imortalizada pela obra de William Shakespeare, Henry V, principalmente pelo inesquecível discurso que antecede a Batalha de Azincourt.

Leia a peça em português no site ShakespeareBrasileiro.org.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Henry_V_of_England

Henry V (Wikipedia)

Henry V (Wikipedia)

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Homem de armas

“Havia quase 50 homens de armas na muralha nova, mas nenhum inimigo na brecha.” “A porta de Paris era comandada por Sir Roger Pallaire e defendida pelos homens de armas ingleses, e Hook se perguntou, não pela primeira vez, por que Sir Roger não havia exigido que os arqueiros ingleses se juntassem àquela guarnição da porta.”

A partir do século XIII, o termo “homem de armas” era usado para descrever guerreiros com armadura lutando a cavalo ou a pé.

Man-at-arms

Albert Dürer: Study of a rider (Wikimedia Commons)

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Lamento de Robin Hood

“Explorem até o topo do morro! Se ouvirem ou virem alguém, venham e me encontrem! Mas assobiem “O lamento de Robin Hood” para eu saber que é um inglês que está vindo (…)”

Não achei referência clara a uma canção com o nome Robin Hood’s Lament. Mas descobri que a expressão lament pode significar morte. O que indica alguma relação com as baladas sobre a morte do legendário fora-da-lei.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Robin_Hood’s_Death

Agora… achei esse texto A Gest of Robyn Hode, que é um conto datado do século XV.

E na Last FM tem esse trecho de gravação de alaúde por James Kalal – Danza (Robin Hood’s Lament).

Aliás tem um personagem no livro de Cornwell chamado Will Sclate. Seria uma homenagem ao integrante da gangue de Hood, Will Scarlet?

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Lança

Tem uma coisa complicada na pesquisa sobre as armas antigas. Existe o termo “lança” em português. Mas nas fontes de consulta em inglês tem spear, lance e pike. Tudo pra mim parece a mesma coisa: lança. Mas é lógico que tem diferenças.

Para quem quiser entender os detalhes, indico o site http://www.medievalwarfare.info/weapons.htm#polearms

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Lanolina

“O couro era de cervo, de alta qualidade, e as duas vestimentas caras haviam sido feitas por um alfaiate de Londres, de modo que se ajustavam em Sir John como uma segunda pele. Cartwright não disse nada enquanto passava punhados de lanolina no couro de cervo.”

Produto natural obtido a partir da cera de lã bruta, a lanolina é uma graxa amarelada excretada pelas glândulas sebáceas das ovelhas. Além da ampla utilização pela indústria cosmética em produtos para pele e cabelos, a lanolina também é aplicada na composição de amaciantes de roupas, como lubrificante de instrumentos musicais e na conservação e proteção ou impermeabilização de lonas, couros e outros tecidos ou produtos de revestimento e vedação. Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lanolina

http://www.brasilescola.com/quimica/lanolina.htm

Lanolina

Lanolina

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Lolardos

“- Quem são eles, afinal? – peguntou Hook. Lolardos – respondeu Sir Edward.”

O Lollardismo foi um movimento político e religioso ocorrido na Inglaterra, no final do século XIV e início do século XV, que pretendia promover uma reforma da Igreja Católica. Sua doutrina preconizava, entre outras coisas, que o leigo devoto tinha o mesmo poder de executar o ritos religioso feitos pelos padres, o que descredenciava a autoridade hierárquica da Igreja. E ainda defendia a pobreza apostólica e a taxação das propriedade da Igreja. Ou seja: os lolardos compravam uma briga feia com a Igreja e a coroa inglesa.

Henrique V reprimiu firmemente o movimento e sem concessões, tendo inclusive mandado executar seu velho amigo Sir John Oldcastle (que inspirou o persongagem Falstaff, de Shakespeare) por apoiar os lolardos. As origens do movimento lolardo encontram-se nos ensinamentos de John Wycliffe, um teólogo proeminente da Universidade de Oxford, que viveu no século XIV e fez a primeira tradução completa da bíblia para a língua inglesa. Suas ideias são consideradas precursoras da Reforma Protestante de Martinho Lutero.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lollardismo

John Wycliffe entrega a tradução da Bíblia aos padres, que ficaram conhecidos como lolardos. (quadro de William Frederick Yeames).

John Wycliffe entrega a tradução da Bíblia aos padres, que ficaram conhecidos como lolardos. (quadro de William Frederick Yeames).

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Lúcio

“- Um lúcio – disse Hook -, e há boa carne num lúcio. – Ele abriu o peixe na margem, derramando as tripas no rio.”

Peixe carnívoro de água doce da família dos esocídeos (Esox lucius), com cabeça pontuda, corpo alongado e faixas pardacentas, natural da Europa, que chega a medir 1,2 metros e pesar até 9 kg. [F.: Do lat. luciu,ii.] Fonte: iDicionário Aulete

Lúcio

Lúcio

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Maça

Arma largamente utilizada na Idade Média, era composta de um haste e metálica e uma extremidade arredondada ou poligonal dotada de pontas afiladas para ferir o inimigo.

Fonte: http://oscavaleirosdesantiago.blog.terra.com.br/glossario/

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Machado de batalha

Também chamado machado de guerra, é uma arma antiga de curta distância projetada especificamente para o combate. Muitos eram adequados para uso em uma mão, enquanto outros eram maiores e utilizados com as duas mãos.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Machado_de_guerra

Exemplo de machado de batalha (circa 1415) feito sob medida para um cavaleiro (Wikipedia).

Exemplo de machado de batalha (circa 1415) feito sob medida para um cavaleiro (Wikipedia).

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Manganela

“Barcas subiram o rio, impelidas por remos gigantescos, e traziam quatro manganelas, máquinas enormes que podiam lançar pedras contra a muralha da cidade.”

A manganela era um tipo de catapulta ou máquina de sítio usada na era medieval para lançar projéteis contra paredes de castelos. Sua precisão era muito melhor que a de um trabuco (trebuchet) (que foi introduzido mais tarde, logo antes da descoberta e do uso difundido das armas de pólvora). A manganela lança projéteis em uma trajetória mais baixa e em velocidade mais elevada do que o trabuco com a intenção de destruir muralhas e fortificações, mas também foi muito utilizada nos campos de batalha.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manganela

Manganela (fonte: Wikimedia Commons)

Manganela (Mangonneau. Wikimedia Commons. Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XIe au XVe siècle, fr:Viollet le Duc, 1858)

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Martelo de guerra

Arma semelhante à acha, dotada de ponta afilada perfurante.

Fonte: http://oscavaleirosdesantiago.blog.terra.com.br/glossario/

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Owain Glyn Dwr

“- Era bom, aquele Owain Glyn Dwr – disse [Dafydd ap Traharn] calorosamente -, que homem!”

Personagem histórico da Grã Bretanha, Owain Glyn Dwr foi o último nativo do País de Gales a portar o título de Príncipe de Gales (que passou a ser adotado para designar o príncipe herdeiro da coroa inglesa). Liderou uma feroz e longa, porém fracassada, revolta contra a submissão de seu país ao domínio inglês, durante o reinado de Henrique IV. Shakespeare o retratou na peça Henrique IV Parte 1 (com o nome anglicizado para Owen Glendower) como um homem exótico e movido pela magia e emoção. “(…) no instante em que eu vi a luz do dia, o céu ficou coberto de figuras fulgurantes; as cabras se atiravam dos montes e os rebanhos não cessavam de atroar as planícies espantadas. Tais sinais inculcavam coisas grandes. Toda a minha existência é a melhor prova de que escapo do rol dos homens baixos.” — Henrique IV, Parte 1, Ato 3, cena 1).

Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Owain_Glyndŵr

http://shakespearebrasileiro.org/pecas/king-henry-iv-part-1/?pid=517.

Escultura de Owain Glyndŵr de Alfred Turner (City Hall, Cardiff)

Escultura de Owain Glyndŵr de Alfred Turner (City Hall, Cardiff)

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Pastinaga

“- Sopa grossa, Magot, centeio, carne e pastinaga. E uns dois nabos, também.”

A cherovia (português europeu) ou chirívia (português brasileiro) (Pastinaca sativa) é uma raiz que se usa como hortaliça, relacionada com a cenoura, embora mais pálida e com sabor mais intenso do que esta. O cultivo remonta a tempos antigos na Eurásia: antes do uso da batata, a cherovia ocupava o seu lugar. Em Portugal, é cultivada na região da Serra da Estrela.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pastinaca_sativa

Legenda: Pastinaga (http://www.quentalbiologico.com)

Legenda: Pastinaga (http://www.quentalbiologico.com)

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Pavise

“Seu olhos examinaram o terreno coberto pela fumaça do lado de fora da cidade, e ele viu um besteiro sair de trás de um pavise decorado com o símbolo de machados cruzados.”

Escudo largo e convexo de origem européia, utilizado para proteção de corpo inteiro. Também era feita em versão menor para combate mão a mão e para proteger as costas dos homens de armas. O uso de um escudo para proteger um arqueiro encontra registro desde a era  de Homero. Na Ilíada, o autor descreve Ajax utilizando seu escudo para defender Teucro, seu meio-irmão e arqueiro , para que este pudesse disparar flechas fora da mira dos inimigos.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Pavise

Pavise

Pavise, pavis ou escudo parede (do site Shadowfax)

Teucro, escultura em bronze de Sir William Hamo Thornycroft (Wikimedia Commons)

Teucro, escultura em bronze de Sir William Hamo Thornycroft (Wikimedia Commons)

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Pisoeiro

“Estavam cavalgando por uma região de colinas baixas e íngremes e riachos rápidos, guiados por um homem da região, um pisoeiro, que conhecia o emaranhado de trilhas confusas que se entremeavam no campo.”

Também chamado de pisoador, é o sujeito que pisoa, ou seja, comprime e bate o pano de lã com o pisão. Pisão, também chamado de fula, é um instrumento da mecânica têxtil utilizado para dar maior consistência ao tecido. O pisoamento, também chamado batanagem, visa obter o chamado tecido feltrado. Na indústria moderna esse procedimento é feito por calandragem (uso de calandras ou cilindros metálicos que giram e comprimem o tecido), além do emprego de altas temperaturas e produtos químicos.

Fontes: Dicionário Houaiss Online, www.texsite.info e Coleccoes do MNE.

Pisão  (www.trilhos-serranos.com)

Pisão (www.trilhos-serranos.com)

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Salve Jorge!

“- São Jorge! – gritou Hook. – São Jorge!”

São Jorge (275 – 23 de abril de 303) foi, de acordo com a tradição, um padre e soldado romano no exército do imperador Diocleciano, venerado como mártir cristão. Na hagiografia, São Jorge é um dos santos mais venerados no catolicismo (tanto na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa como também na Comunhão Anglicana). Também é venerado em diversos cultos das religiões afro-brasileiras, onde é sincretizado na forma de Ogum. É imortalizado no conto em que mata o dragão e também é um dos Catorze santos auxiliares. Considerado como um dos mais proeminentes santos militares, sua memória é celebrada dia 23 de abril como também em 3 de novembro, quando, por toda parte, se comemora a reconstrução da igreja dedicada a ele na Lida (Israel), onde se encontram suas relíquias, erguida a mando do imperador romano Constantino I.Há uma tradição que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Apesar de sua história se basear em documentos lendários e apócrifos (decreto gelasiano do século VI), a devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo.

É o santo padroeiro em diversas partes do mundo: Inglaterra, Portugal, Geórgia, Catalunha, Lituânia, Sérvia, Montenegro, Etiópia, das cidades de Londres, Barcelona, Génova, Reggio di Calabria, Ferrara, Friburgo em Brisgóvia, Moscou e Beirute, extra-oficialmente, da cidade do Rio de Janeiro (título oficialmente atribuído a São Sebastião) e da cidade de São Jorge dos Ilhéus, além de ser padroeiro dos escoteiros, e da Cavalaria do Exército Brasileiro.

Não há consenso, porém, a respeito da maneira como teria se tornado padroeiro da Inglaterra. Seu nome era conhecido pelos ingleses e irlandeses muito antes da conquista normanda, o que leva a crer que os soldados que retornavam das cruzadas influíram bastante na disseminação de sua popularidade. Acredita-se que o santo tenha sido escolhido o padroeiro do reino quando o rei Eduardo III fundou a Ordem da Jarreteira, também conhecida como Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348. De acordo com a história da Ordem da Jarreteira, Rei Artur, no século VI,colocou a imagem de São Jorge em suas bandeiras.5 Em 1415, a data de sua comemoração tornou-se um dos feriados mais importantes do país.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Jorge

São Jorge e o Dragão, de Gustave Moreau.

São Jorge e o Dragão, de Gustave Moreau.

A bandeira do Reino Unido, ou Union Jack, é formada por sinais que representam os santos padroeiros da Inglaterra (a cruz vermelha de São Jorge), Escócia (o X branco sobre azul de Saint Andrew) e Irlanda (o X vermelho de São Patrício).

Cruz de São Jorge está no coração da Union Jack

Cruz de São Jorge está no coração da Union Jack

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São Crispim e São Crispiniano

“- Já ouviu falar de São Crispim e São Crispiniano? – Não. – São patronos dos sapateiros, garoto, e dos trabalhadores do couro.”

Os santos do dia 25 de outubro (data na qual, em 1415, aconteceu a Batalha de Azincourt) eram dois irmãos que viveram no terceiro século da era cristã e foram martirizados (para variar, torturados e degolados) em Soissons na Fança. Conta a lenda que os irmãos fugiram de Roma para a Gália (atual França) devido à perseguição aos cristãos imposta pelo imperador Diocleciano. Crispim e Crispiniano eram sapateiros e, por isso, tornaram-se padroeiros dos profissionais desse ramo. No romance de Cornwell, os santos têm participação importante, inspirando as ações do arqueiro Nicholas Hook.

Fontes: Wikipedia e Hagios da Trindade.

Detalhe da obra de Aert van den Bossche: Martírio de São Crispim e São Crispiniano Museu Nacional de Varsóvia

Detalhe da obra de Aert van den Bossche: Martírio de São Crispim e São Crispiniano Museu Nacional de Varsóvia

Não consegui encontrar nenhuma imagem dos santos na catedral de Soissons… Mas até achei essa simpática capela dedicada aos mártires no Rio de Janeiro.

Altar da Venerável Irmandade dos Mártires da Capela de São Crispim e São Crispiniano, Rio de Janeiro

Altar da Venerável Irmandade dos Mártires da Capela de São Crispim e São Crispiniano, Rio de Janeiro

Fachada da Venerável Irmandade dos Mártires da Capela de São Crispim e São Crispiniano

Fachada da Venerável Irmandade dos Mártires da Capela de São Crispim e São Crispiniano

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São David

“- Hoje somos irmãos! Nascemos na Inglaterra, nascemos em Gales, e juro pela lança de São Jorge e pela pomba de São David que irei levá-los de volta à Inglaterra, para Gales, com novas glórias em nosso nome!”

São David ou Davi (500-589; em galês: Dewi Sant) é um santo cristão, padroeiro do País de Gales, festejado em 1º de março. Também é conhecido com David, o Bretão. Diz a tradição que ao ser consagrado Arcebispo uma pomba desceu em seus ombros para mostrar que ele tinha a benção do Espírito Santo.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/São_David

São David, padroeiro do País de Gales, representado num vitral do Jesus College Chapel, Oxford.

São David, padroeiro do País de Gales, representado num vitral do Jesus College Chapel, Oxford.

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São Denis

Saint Denis! Montjoie! Montjoie!”

De acordo com a tradição cristã, São Denis (também chamado São Dionisio) foi um mártir e santo da cristandade que viveu no século 3. Tornou-se bispo de Paris, mas sofreu com a perseguição do imperador Décio aos cristãos e, por isso, foi condenado à morte e decapitado em Montmartre (que possivelmente significa monte do martírio), a colina mais alta de Paris. O local já era considerado sagrado para os antigos druídas e nele hoje ergue-se a Igreja do Sagrado Coração (Sacre Ceur).

Segundo a lenda, após a decapitação, Denis recolheu a própria cabeça e caminhou por 10 kilômetros, pregando um sermão por todo o percurso. Seus restos mortais foram enterrados no local onde o santo parou de pregar e finalmente morreu. Nele encontra-se hoje a Basílica de Saint Denis, considerada precursora do estilo gótico, que tornou-se destino de pereguinações e onde eram sepultados os reis da França.

A devoção a São Denis espalhou-se rapidamente por todo o país. “Montjoie! Saint Denis!” tornou-se o grito de guerra do exército francês. A bandeira Oriflamme, outro simbolo nacional, foi o banner consagrado sobre o túmulo do santo e representava o rei da França nas batalhas medievais. O dia de celebração de São Denis é 9 de outubro.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Denis

São Denis segurando sua cabeça. Estátua no portal esquerdo de Notre Dam (Wikipedia)

São Denis segurando sua cabeça. Estátua no portal esquerdo de Notre Dame (Wikipedia)

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Sarilho

“O trabalho deles era estragar o canhão, o que estavam tentando fazer com um machado enorme que fora abandonado junto do sarilho que inclinava o pesado anteparo de proteção sobre seu eixo. Haviam conseguido despedaçar o sarilho, mas agora todos, menos um, estavam mortos.”

Qualquer dispositivo rotativo para enrolar e desenrolar coisas flexíveis como cordas, mangueiras, cabos elétricos, espias de bordo etc. (Dicionário Houaiss).

Como a manivela que ajuda a subir e descer o balde do poço ou aquela que retrai e libera a linha da vara de pescar. Nas armas medievais, o sarilho tem aplicação nas bestas, para tensionar a corda que dispara as setas, e em outras engenhocas bélicas.

Sarilho

Sarilho

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Soissons

“Não eram mais vaporosos, agora pareciam homens feitos de metal queimando, fantasmas dos sonhos do inferno, a morte vindo pela escuridão até Soissons.”

Durante a Guerra dos Cem Anos, forças francesas cometeram um notório massacre de arqueiros ingleses que serviam na guarnição da cidade, no qual muitos dos próprios habitantes franceses foram estuprados e mortos. O massacre de cidadãos franceses por soldados conterrâneos chocou a Europa. Henrique V, da Inglaterra, sabendo que a cidade de Soissons era dedicada aos santos Crispim e Crispiniano, prometeu vingar a honra dos santos quando encontrou as forças francesas na Batalha de Azincourt, no Dia de São Crispim e São Crispiniano em 1415.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Soissons

Fachada da Catedral de Soissons (Wikipedia)

Fachada da Catedral de Soissons (Wikipedia)

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Springolt

“O inimigo também possuía canhões, mas os seus eram muito menores, disparando uma pedra que não era maior do que uma maça, sem o peso capaz de arrebentar os pesados anteparos. Seus springolts – bestas gigantescas que lançavam setas grossas – tinham menos força ainda. Quando entregava uma carroça de madeira para reforçar as trincheiras, Hook teve um de seus cavalos acertado bem no peito por uma seta de springolt. O míssil se cravou no corpo do cavalo, rasgando pulmões, coração e barriga, de modo que o animal simplesmente desmoronou, com as patas se abrindo numa súbita poça de sangue.”

Também chamado de espringal ou espringale é uma estrutura que funciona como arbaleta, balestra ou besta de grande porte apoiada sobre suporte fixo ou com rodas, que dispara projéteis gigantes. Utilizado até o século 15 na defesa ou ataque de fortalezas. Pelo que pesquisei, o termo springolt também pode designar especificamente o dardo ou seta disparado pelo espringal. O projétil, neste caso era dotado de placas de metal no lugar de penas (como ocorre com as flechas) para garantir uma trajetória mais estável. Fontes: JLPs Blog, Wikipedia (Espringale) e The Hurl.

Springolt

Springolt

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Teixo 

“O arco era uma beleza, pensou. O teixo fora cortado numa região do sul, onde o sol brilhava mais forte, e esse arco fora esculpido a partir do tronco da árvore.”

O teixo (em inglês, yew) ou  Taxus baccata é uma árvore gimnospérmica da família das Taxáceas. Pensa-se que era a matéria prima para os arcos de Robin Hood, principalmente por ser a madeira utilizada nos arcos de guerra ingleses desse período. O  arco era confeccionado de forma que o cerne (heartwood) do teixo ficasse na parte interior, enquanto que o alburno da  (sapwood) compusesse a porção exterior. Essa técnica tirava proveito das propriedades naturais da madeira de teixo, já que o cerne resiste à compressão e o alburno, à tensão, o que incrementava a força e a eficiência do arco.

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Teixo

http://en.wikipedia.org/wiki/Taxus_baccata

Bignor Church yew tree, West Sussex, England. (Wikimedia Commons)

Bignor Church yew tree, West Sussex, England. (Wikimedia Commons)

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Ternoise (o Rio de Espadas)

“- O povo do local – disse o homem – chama o Ternoise de rio de Espadas.”

O rio Ternoise é um dos pequenos córregos que banham as regiões de Boulonnais e Picardia, desaguando no Canal da Mancha, na França.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ternoise

Rio Ternoise (Wikimedia Commons)

Rio Ternoise (Wikimedia Commons)

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Thomas Hookton

“Sabia de outros arqueiros que haviam comandado companhias e ficado ricos. Sir Robert era o mais famoso, mas os arqueiros também se lembravam de Thomas de Hookton, que havia morrido como senhor de quatrocentos hectares.”

Thomas Hookton é o personagem principal de outra ótima obra de Cornwell, a trilogia A Busca do Graal, que se passa algumas décadas antes de Azincourt, durante a Guerra dos Cem Anos. O arqueiro Hookton está de volta em mais um romance do autor chamado “1356”, que ainda não foi editado no Brasil.

O Arqueiro, de Bernard Cornwell

O Arqueiro, de Bernard Cornwell

1356, de Bernard Cornwell

1356, de Bernard Cornwell

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Torre de cerco

Uma torre de cerco (em inglês, siege tower ou belfry) era uma estrutura construída para proteger atacantes (lanceiros, arqueiros, besteiros, homens de armas etc.), escadas e outros equipamentos de guerra na aproximação dos muros de uma fortificação inimiga. A torre era frequentemente retangular com quatro rodas e alcançando a mesma altura ou um comprimento até maior que o das muralhas, permitindo de forma uma posição privilegiada para que arqueiros disparassem flechas em direção à fortificação. Por serem feitas normalmente de madeira e, portanto, inflamáveis, precisavam ser revestidas com ferro ou pele de animal para ficarem mais protegidas de fogo e óleo quente. Por seu tamanho grande, a torre era frequentemente o alvo inicial das catapultas do oponente. Mas as torres também podiam abrigar armas que disparavam projéteis (springolts, balistas etc.).

Fontes: http://en.wikipedia.org/wiki/Siege_tower e http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_cerco

Desenho francês do século 19 representando uma torre de cerco medieval (Wikipedia)

Desenho francês do século 19 representando uma torre de cerco medieval (Wikipedia)

 

Torre de cerco medieval inglesa. Gravura em placa de cobre intitulada Pavisors & Moveable Tower Assaulting a Castle (Wikipedia)

Torre de cerco medieval inglesa. Gravura em placa de cobre intitulada Pavisors & Moveable Tower Assaulting a Castle (Wikipedia)

 

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Trebuchê

“Outros túneis eram cavados no lado lese de Harfleur, onde as forças do duque de Clarence estavam acampadas, e tanto do leste quanto do oeste os canhões trovejavam e as pedras rasgavam as muralhas, as manganelas e os trebuchês lançavam pedregulhos na cidade, fumaça e poeira irrompiam e subiam das ruas estreitas enquanto os mineiros se esgueiravam na direção das fortificações.”

O trebuchê (em francês, trébuchet), também chamado de trabuco, era um dispositivo bélico medieval empregado principalmente nas ações para sitiar fortificações inimigas. Também pode ser denominado trebuchê de contrapeso para ser diferenciado de uma antiga versão da arma chamada trebuchê de tração, que utilizava homens para impulsionar o mecanismo. O trebuchê surgiu tem terras cristãs e mulçumadas ao redor do Mediterrâneo no século XII. Podia lançar projéteis de até 140 kilos em alta velocidade na direção do oponente.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Trebuchet.

Veja mais também neste artigo do site Guilda dos Armoreiros e no Trebuchet.com.

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Mais sobre armas, armaduras e outras belicosidades medievais

Na verdade, existe uma infinidade impressionante de sites sobre armas, armaduras, como fazer seu arco e flecha ou seu próprio trebuchê, artesãos que fazem armaduras ou trajes medievais sob encomenda, sociedades de aficcionados por justas etc. E você pode encontrar desde guias e glossários até vídeos demonstrativos e tutoriais. Segue uma modesta seleção de referências.

Medieval Warfare – Ótimo guia de armas e armaduras.

Discovery.com – Outras referências sobre armas medievais.

Middle Ages Weapons – Esse tem muitas descrições de armamentos, mas quase nenhuma imagem.

Chivalry – Perfeito para os bem malucos por batalhas medievais. É fartamente ilustrado e até oferece avaliação da letalidade das armas.

TechNews Daily – 10 armas medievais que revolucionaram o modo de fazer guerra.

Medieval 2: Total War Heaven – Mais sobre armaduras

Medieval Swords – Bom. Destaque para o verbete sobre elmos.

Components of medieval armour (Wikipedia) – Guia basicão ilustrado.

A anatomia de uma armadura medieval – Bem legal esse artigo do Garotas Geeks.

List of medieval weapons (Wikipedia) – Outro índice mais completo.

Os Cavaleiros de Santiago – Ótimo glossário de armas e vestimentas medievais.

Guilda dos Armoreiros – Eles têm projetos bem interessantes, como a reconstituição da armadura do Príncipe Negro (Eduardo III, da Inglaterra). Ótima fonte de informações.

Trebuchet.com – Tudo sobre o trebuchê (a bomba atômica da idade média).

Os Cavaleiros de Santiago – Glossário – Outro guia ilustrado basicão com armas, vestimentas etc.


Voltando à jornada de Bilbo

Como disse antes, comecei a jornada de leituras de Tolkien em 2012 com a revisita ao O Hobbit. Pareceu até que nunca tinha lido antes. E, a princípio, até achei melhor escrito do que O Senhor dos Anéis. Talvez porque tenha sido pensado como um volume único. Sem maiores pretensões para o anel que faz Bilbo desaparecer ou para o universo complexo da Terra Média. É realmente um livro mais enxuto. Mas alguns meses depois, reli a trilogia e mudei de ideia. Gosto dos dois de maneiras distintas.

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Para além das montanhas nebulosas, frias,

Adentrando cavernas, calabouços perdidos

Devemos partir antes de o sol surgir,

Buscando tesouros há muito esquecidos.

Capítulo I – Uma festa inesperada – J.R.R. Tolkien: O Hobbit

Tradução: Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta

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O Hobbit

O Hobbit: a aventura que antecedeu outra

Achei estranho como o filho, Christopher Tolkien, quase não cita O Hobbit como referência em seus comentários sobre as narrativas inacabadas do pai. Fiquei com a impressão de que O Hobbit não era muito levado a sério dentro do contexto das obras sobre a Terra Média. Dizem que Tolkien criou o livro para seus filhos, mas acho que tem passagens um tanto sombrias e não deveria ser tratado especificamente como infantil ou ser considerado  menor que os outros livros do autor. Sim, há muitos recursos formais que direcionam a narrativa para crianças, tipo: “Aranhoca, aranhoca, você é uma boboca! ” Mas, ainda assim, o herói Bilbo enfrenta umas barras bem pesadas e toma decisões difíceis e maduras para manter o grupo de 13 anões na trilha da aventura. Sua malandragem também vai ajudar em planos complicados e negociações entre elfos, homens e anões, o que o torna um espião bem astuto. Sem falar no super marrento anão Thorin, Escudo de Carvalho, e o tormento que divide seu coração entre o desejo ardente de reconquistar o reino perdido e o dever de liderar o grupo.

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– Fui olhar à frente – disse ele.

– E o que o trouxe de volta bem na hora?

– O olhar para trás – disse ele.

Capítulo II – Carneiro assado – J.R.R. Tolkien: O Hobbit

Tradução: Lenita Maria Rímoli Esteves e Almito Pisetta

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Reler O Hobbit também foi bom para rever o papel dos 13 anões. Mais um elemento de identificação com narrativas infantis. E é uma das coisas que tornam o livro um clássico. É… São muitos anões. E muitos tipos.  Thorin é o líder durão. Balin, o mais velho e experiente. Fili e Kili são os jovens encrenqueiros, como Merry e Pippin de O Senhor dos Anéis. Mas vou destacar o fofíssimo Bombur, que sonha com comida e sofre ao despertar para a jornada de fome que o grupo enfrenta em muitos momentos.

The Hobbit (ilustração de Sam Bosma)

The Hobbit (ilustração de Sam Bosma)

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Ali no fundo, na beira da água escura, vivia o velho Gollum, uma pequena criatura viscosa. Não sei de onde veio, nem quem ou o que ele era. Era um Gollum – escuro como a escuridão, exceto por dois grandes olhos redondos e pálidos no rosto magro.

Capítulo V – Advinhas no escuro – J.R.R. Tolkien: O Hobbit

Tradução: Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta

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O Hobbit é uma pílula ultra concentrada de aventuras. Acontece tanta coisa que a gente até se esquece. Relembrando a história ao assistir a primeira parte da trilogia do Peter Jackson, fiquei pensando no tantão de encrenca que ainda vai rolar. O salão de Beorn, a fuga nos barris, a Cidade do Lago, o Dragão Smaug e a Batalha dos Cinco Exércitos.

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As águias desceram rápidas para o topo da rocha, uma a uma, e apearam seus passageiros.

– Boa viagem! – gritaram elas -, por onde quer que viajem antes que seus ninhos os recebam no fim do caminho! – É a coisa educada que se deve dizer entre águias.

– Que o vento sob suas asas possa levá-las para onde o sol navega e a lua caminha – respondeu Gandalf, que sabia a resposta correta.

Capítulo VII – Estranhos alojamentos – J.R.R. Tolkien: O Hobbit

Tradução: Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta

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O filme

É meio que um chavão dizer que assistir ao filme é como voltar para um lugar que se ama. Mas, fazer o que? É isso mesmo. Logo que começam a exibir as vinhetas dos estúdios produtores ao som do tema de Howard Shore, você lembra porque ama aquilo tudo. E pode-se amar tanto que nem incomoda as licenças artísticas. O Radagast e seus bichinhos bizarros tem algo de Guillermo Del Toro, que colaborou no roteiro. Aquela narrativa da queda de Erebor também parece cheia de impressões digitais do cineasta mexicano. Mesmo espremendo para a tela personagens e situações que não aparecem no livro (Galadriel, Elrond e outros), continuo achando que o filme reverencia a obra mais do que exagera nas “viagens”.

Primeira parte da jornada

Primeira parte da jornada

Não estranhei os 48 quadros por segundo. Só me causou a impressão de estar diante de uma tela gigantesca de TV HD. Mas a textura me pareceu mais para vídeo do que película.  Realmente a alta definição da imagem possibilita uma riqueza maior de detalhes que revelam mais de um filme acontecendo em planos diferentes. Na cena da perseguição dos goblins aos anões, que buscam a entrada para Valfenda, isso fica bem evidente. Cada warg era um personagem único, com movimentos e trejeitos próprios.

Ainda não sei dizer se foi uma boa escolha contar tudo em 3 partes e não 2. Mas, concordo que é um filme feito mais para fãs de Tolkien e da trilogia anterior do que para quem não é muito ligado no universo da Terra Média. Acho que os fãs irão curtir melhor as quase 3 horas de projeção e aguardar as próximas partes da aventura com mais ansiedade. Vem aí Beorn, o troca-peles. E a sensacional conversa de Bilbo com Smaug.

Longa jornada pela Terra Média: O Senhor dos Anéis

Cheguei ao fim de uma viagem. Sem planejar, 2012 tornou-se o meu Ano Tolkien. Foram mais de 2.500 páginas desde a releitura de O Hobbit, passando pelas primeiras incursões por O Silmarillion e os Contos Inacabados, terminando com mais 2 meses de um novo mergulho na trilogia O Senhor dos Anéis, incluindo os Apêndices.

Na primeira vez em que li O Senhor dos Anéis, me impressionei com a imaginação do autor. Curti demais os personagens, a riqueza de descrição da Terra Média, a originalidade e até mesmo uma certa excentricidade de coisas como seres que têm pés peludos. Mas confesso que não gostei tanto do texto em si. Achei meio chato. Talvez seja por ser monumentalmente detalhado. Páginas e mais páginas para narrar o percurso da Torre Cirith Ungol até a Montanha da Perdição. Mas acontece que releituras podem ser experiências inéditas. Ainda mais depois da passagem de mais de 10 anos. Caminhar carregando um anel mágico de poder em uma terra sem sol ou lua, com vapores escuros e sufocantes, sem água ou comida, reflete um pouco a vida, quando enfrentamos, por exemplo, épocas de vacas magras. Sacrifícios, privações, desconfortos. Demora a passar, parece uma eternidade, mas depois descobrimos que trata-se de uma jornada de transformação. Cada um tem a sua. Acho que a compreensão dessas coisas enriquece a experiência com as histórias.

A Sociedade do Anel

A Sociedade do Anel

Diz-se muito sobre a coisa do Tolkien ser maniqueísta. Elfos são bons, orcs são maus e homens e anões se orientam de um lado ou outro da cerca. Mas não é possível ser totalmente maniqueísta. As tradições de contar histórias já mostraram isso. Sejam as lendas e mitos dos povos, os contos de fadas e fábulas, os escritos religiosos, os clássicos da literatura ou mesmo os filmes, séries e novelas. A magia que inspira pessoas a construir narrativas ou transmitir o que outro criou é um processo de ruptura, de transformação. Não somos mais os mesmos depois de atravessarmos a história. E quem escreve ou inventa uma história acaba mudando no processo. A trama e os personagens se inflam de uma vida própria e o autor não tem mais tanto controle. A narrativa acaba sendo resultado desse confronto entre a vontade de quem digita ou rabisca no caderno e o “monstro” que já foi inventado e se impõe. E quando essas criaturas se projetam para além da superfície do papel ou da tela, ficam sujeitas às forças dinâmicas da vida, onde o Bem e o Mal não conseguem ficar muito juntos ou separados, por muito tempo…

As Duas Torres

As Duas Torres

Imagine Tolkien nas trincheiras da 1ª Guerra. O que vivenciou para entender quando dizem sobre os pecados de guerra. Imagine um escritor passar tipo 10 anos escrevendo um romance. Convivendo com os conflitos e as provações dos personagens. Se fosse tão maniqueísta, não seria um livro tão orgânico, tangível nem tão belo e amado. Em outra ocasião, poderei escrever sobre Túrin, personagem cheio de contradições e um dos melhores de Tolkien.  Mas vou deixar para falar dele nos posts sobre O Silmarillion e os Contos Inacabados. Na trilogia do Anel, quase todos revelam fraquezas, pequenas crueldades, covardias e egoísmos.

Outra revisão foi a importância do mestre Samwise Gamgi. Tem uma verdade reconfortante na chatice e na ingenuidade compensadas pela coragem e integridade dele. Sabe que tem gente que coloca o chapéu do Sam? É. Tem sim. Faz toda a diferença na “dura caminhada pela estrada escura”.

O Retorno do Rei

O Retorno do Rei

Estou começando a relatar a viagem pelo trecho final (O Senhor dos Anéis). Para dizer a verdade, ter lido O Hobbit, O Silmarillion e os Contos Inacabados pavimentou a estrada com outras cores. E por isso, sei que o mestre Tolkien escrevia muito bem, se quer saber. Melhor a cada relida.

Agora, falta só uma nova passeada pelos filmes, para depois cair na estrada de O Hobbit em 3D a 48 quadros por segundo.

E daqui a alguns anos, quem sabe, vou reler tudo e ainda acrescentar As Aventuras de Tom Bombadil.

É bom sonhar com a Terra Média.

nascem da pedra

Raramente elas deixam seus lares, a não ser que haja grande necessidade. São tão semelhantes aos anões na voz e na aparência, e nas roupas que usam quando precisam viajar, que olhos e ouvidos dos outros povos não conseguem distinguí-los. Isso deu origem entre os homens à tola crença de que não há anãs, e os anões “nascem da pedra”.

Dís, filha de Thráin II

Dís, filha de Thráin II. Mãe de Fíli e Kíli. Irmã de Thorin, Escudo de Carvalho.

J. R .R. Tolkien: O Senhor dos Anéis

Apêndice A – Anais dos reis e governantes – III – O Povo de Durin

Tradução de Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta

felaróf

– Venha cá, Ruína do Homem, e receba um novo nome! – Para a surpresa de todos, o cavalo olhou na direção de Eorl, aproximou-se a parou ao lado dele. Eorl disse: – Eu o nomeio Felaróf. Você amava sua liberdade, e não o culpo por isso. Mas agora você me deve uma grande compensação, e deverá entregar sua liberdade  mim até o fim de sua vida.

felarof

ancestral dos mearas

J. R .R. Tolkien: O Senhor dos Anéis

Apêndice A  – Anais dos reis e governantes – II – A Casa de Eorl

Tradução de Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta

bela como o crepúsculo em casadelfos

E eis que Lúthien estava ali, caminhando diante de seus olhos em Valfenda, vestindo um manto prata e azul, bela como o crepúsculo em Casadelfos; seus cabelos escuros esvoaçavam num vento repentino, e sua fronte estava cingida com pedras que pareciam estrelas.

aragorn_and_arwen

vestindo um manto prata e azul

J. R .R. Tolkien: O Senhor dos Anéis

Apêndice A – Anais dos reis e governantes – I – Os Reis Númenorianos

(v) Aqui Segue-se uma Parte da HIstória de Aragorn e Arwen

Tradução de Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta

sendas secretas seguirei

Talvez me espere noutra esquina

Porta secreta ou nova sina;

Embora sempre vão passando

Virá enfim o dia quando

Sendas secretas seguirei

Sem sol, sem lua eu partirei.

Distant Ship

sem sol, sem lua eu partirei

J. R .R. Tolkien: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei – Livro VI

Capítulo 9 – Os Portos Cinzentos

Tradução de Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta

mais com ela do que com qualquer outro lugar do mundo

Esta era a terra de Sam e Frodo, e os dois agora percebiam que se preocupavam mais com ela do que com qualquer outro lugar do mundo. Muitas das casa que conheciam estavam faltando. Algumas pareciam ter sido incendiadas. As belas e antigas tocas de hobbits enfileiradas na margem do lado norte do Lago estavam abandonadas, e seus pequenos jardins, que costumavam descer verdejantes até a beira d’água, estavam cheios de mato.

expurgo_do_condado

seus pequenos jardins, que costumavam descer verdejantes até a beira d’água

J. R .R. Tolkien: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei – Livro VI

Capítulo 8 – O Expurgo do Condado

Tradução de Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta

tinham esperanças e quase uma certeza de vê-lo outra vez

Em pouco tempo chegaram ao ponto da Estrada Leste onde se haviam despedido de Bombadil, e tinham esperanças e quase uma certeza de vê-lo outra vez ali parado, esperando para cumprimentá-los quando passassem. Mas não se via sinal dele, e havia uma névoa cinzenta ao sul, encobrindo as Colinas dos Túmulos, e um véu espesso sobre a Floresta Velha lá adiante.

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“Tom Bombadil” by Anke Katrin Eissmann

J. R .R. Tolkien: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei – Livro VI

Capítulo 7 – A caminho de casa

Tradução de Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta