Encerrando esse longo adeus a 2008…
Gosto de ficar parada olhando pros meus livros… São meus amigos imaginários. Acho que sou meus livros.
Numa daquelas descoberta casuais que a Internet nos proporciona, me surpreendi com esse ótimo blog do projeto Portaberta. Veja esse post com o poema O homem que foi soterrado pela biblioteca, de Fábio San Juan.
Tenho uma compulsão quase incontrolável por livros. Passar na porta da Saraiva ou da Livraria da Travessa é um perigo pra mim. O que acontece? Compro os livros como uma garantia de alimentação literária até a morte. Não dou conta de ler tudo o que compro e o que me emprestam. É uma vergonha. Já fiz até uma prateleira só dos livros interrompidos e outras dos que continuam aguardando na fila. Daí, mudo de apartamento, arrumo as estantes de qualquer jeito e misturo os lidos, meio lidos e nada lidos.
Em 2008 não li nada que estava na parada arrepiante de sucessos da veja. Não. Eu não li os livros dos vampiros da Stephanie Meyers, nem o novo do autor do Caçador de Pipas. Nada contra. Mas não sei dizer porque ou como escolho essas leituras. Tem a ver com os autores, que são os meus favoritos. Não tive muito tempo para ler o quanto gostaria, pois foi um ano de estudos em função de uma pós-graduação, então, tive que dar preferência às leituras que não entram nos assuntos do blog.
Mas até que foi produtivo.
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Tracy Chevalier: O Azul da Virgem e A Dama e O Unicórnio
Você pode nunca ter ouvido falar da autora, mas talvez conheça o filme “Moça com brinco de pérola“, baseado no livro homônimo, que tornou Chevalier conhecida em todo o mundo.
O filme é muito bonito e realmente transmite o clima do livro. A Scarlett Johansson me parece uma Griet perfeita. A atriz que faz a Tanneke é a própria The Milkmaid (meu quadro favorito de Jan Vermeer). Tem cenas filmadas em Delft, onde Vermeer viveu. Até a estrela no chão da Praça do Mercado, onde Griet dá voltas, perdida em suas indecisões, está lá, meio desbotada, no filme. Mas é no livro que a autora garante uma viagem extraordinária pelas sedas, pérolas, luzes e cores do imaginário de Vermeer (aliás, li aqui que se pronuncia “férmir”), e pelas sensações e transformações de uma jovem protestante holandesa, que trabalha como empregada na casa do artista, e se torna irremediavelmente presa dos mistérios da arte e das intrigas da família.
Tracy Chevalier nasceu nos Estados Unidos e vive na Inglaterra. Ela cria histórias sobre mulheres, que, geralmente, vivem em épocas passadas. Tracy possui um texto esplêndido, além de caprichar no que diz respeito à pesquisa e reconstituição de época.
O AZUL DA VIRGEM
Esse é o primeiro livro da Tracy. É sobre duas mulheres em tempos diferentes, que o leitor percebe aos poucos serem descendentes uma da outra.
A ruiva Isabelle du Moulin vive no século 16, na França. Sua família torna-se protestante e muda-se para a Suíça. Mas a força ancestral da Virgem ainda assombra o coração da jovem huguenote. E nos anos 90 vive a parteira americana Ella Turner, que muda-se para a França, onde o marido acaba de aceitar um emprego. Investigando as origens de sua família (os Turner ou Tournier) pelo interior da França, Ella vai aos poucos se aproximando da vida da antepassada Isabelle.
Ao alternar os capítulos entre Isabelle e Ella, Tracy coloca o leitor como o observador de um labirinto, em que as personagens caminham de entradas (e tempos) diferentes, atraídas para um mesmo ponto obscuro. Tracy desde o início já manda bem. É uma leitura vertiginosa. Daquelas para um feriado chuvoso de 3 dias, em que você não consegue parar de virar as páginas.
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A DAMA E O UNICÓRNIO
Agora Tracy volta a falar de obras de arte e inventa uma história maravilhosa em torno do famoso conjunto de tapeçarias do final do século 15, que hoje encontra-se exposto no Museu da Idade Média, em Paris. O pintor miniaturista e mulherengo Nicolas des Innocents recebe uma encomenda para a qual cria o motivo da Dama e o Unicórnio. Mas acaba sendo obrigado por seu cliente, Mr. Jean Le Viste, a partir de sua querida Paris rumo a Bruxelas, onde irá acompanhar a confecção da série de tapeçarias com o tema que criou.
E o romance segue com a trajetória e as motivações do artista, bem como as mulheres que o inspiraram. Há descrições detalhadíssimas das técnicas de tecelagem da época. Dos millefleurs. Confesso que às vezes me perdia tentando entender exatamente como os tecelões do século 15 manipulavam aqueles teares pesados e complicados, com suas manivelas, urdiduras, liças, cilindros etc. Sem falar na preparação dos fios e na dificuldade de obter a cor exata com os processos de tintura. Enfim… era um trabalho hercúleo, demorado e que quase esgotava física e financeiramente os artesãos.
Tracy cria uma trama envolvente e uma série de personagens apaixonantes. E, claro, desperta no leitor uma tremenda curiosidade de ver as tapeçarias de perto e imaginar essa e outras histórias para as pessoas que as criaram.
A Dama e o Unicórnio é o quarto livro da autora, posterior ao Moça com Brinco de Pérola. Ainda falta ler Anjos Caídos (2001) e Burning Bright (2007).
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Michael Crichton: Linha do Tempo
E o homem se foi. Mal tinha acabado de ler esse romance sobre viagem no tempo, física quântica, idade média e tal, quando soube que Michael Crichton tinha morrido vítima de câncer. Achei uma pena, pois fiquei muito interessada na obra dele e imaginava quantas idéias legais ainda iria abordar em novos livros.
Na semana em que partiu, foi exibido um episódio do seriado E.R. com uma introdução especial em que o ator Eric La Salle (o dr. Peter) fez uma homenagem super bonita ao Crichton. Ele foi o idealizador da série, que tomava emprestado um pouco da experiência do escritor quando foi médico da emergência de um hospital de Chicago. Aliás, sempre achei que aquele personagem do E.R., Dr. Carter, é meio que um alterego do Crichton. A história é em Chicago e ambos foram estagiários e residentes do setor de emergência. Ambos conheceram a África. Só que Michael Crichton, antes de estudar e fazer residência em medicina, era um antropólogo. Suas viagens à África, que inspiraram livros como Congo (que não li), ocorreram em função da Antropologia. Esse background do autor me interessou muito. Mais do que o sucesso de Jurassic Park.
Passei alguns anos na vontade de ler esse Linha do Tempo e o Devoradores de Mortos. Esse último, foi o que inspirou o filme O 130 Guerreiro, com o Antonio Banderas. Na verdade, o livro não é exatamente uma obra de ficção, mas sim o resultado de uma pesquisa de Crichton sobre um manuscrito de um sujeito do mundo árabe da idade média, que realmente existiu e registrou suas impressões de uma viagem pelas terras dos Vikings. São muito bacanas, tanto o livro quanto o filme.
Mas vamos ao Linha do Tempo. Conheci primeiramente o filme, que achei fraco e bobo. Aproveita muito pobremente um ótimo argumento sobre viagens no tempo. A presença de Gerard Butler dá até uma florida na parada, mas o Marek que ele interpreta é muito fraquinho em comparação com o do livro.
Pois bem. Nesse romance, o Crichton coloca em questão as possibilidades de viagem no tempo, respaldadas, se posso dizer assim, pela física quântica. Não vou entrar em detalhes sobre esse assunto, até porque, mesmo com as tentativas de explicar, da forma mais didática possível, os fenômenos de deslocamento no tempo-espaço (o autor até desenha, literalmente), fiquei de cuca fundida total. Deixa pra lá a parte científica da ficção….
Os personagens principais do livro são cientistas, técnicos e pesquisadores de diversas formações. Uma equipe multidisciplinar, que inclui antropólogos, geólogos, botânicos, físicos e até um especialista em armas e combates na idade média, que fala inglês e francês antigos, occitano e outras línguas obscuras. Esse é o sensacional Marek. Que ainda é pegador e se dá bem nas aventuras…
Bom… Aí, esse povo todo está trabalhando para uma super corporação de tecnologia chamada TechGate, liderada por um empresário visionário chamado Robert Doninger, que, pela descrição de Crichton, é uma espécie de Bill Gates menos famoso, mas muito mais ambicioso e sem escrúpulos. A equipe atua para Doninger num projeto secreto que pretende viabilizar viagens no tempo como a nova fronteira da ciência, turismo e entretenimento. Os funcionários trabalham na escavação de um sítio arqueológico, onde no século 14 (um dos meus favoritos!!!) deu lugar a uma batalha sangrenta em meio à Guerra dos Cem Anos. O piloto do “projeto” pretende levar as pessoas a um “passeio” por esse cenário histórico, de onde retornariam ilesas depois de viverem fortes emoções.
Tudo na teoria é bonito, mas você já pode imaginar que, na prática, ninguém voltaria totalmente ileso e as “emoções” de cair no meio do século 14, sem saber cavalgar ou usar espada e escudo, estão mais para uma roubada, mesmo. E os nossos heróis cientistas se metem nessa enrascada para salvar um dos membros da equipe que não conseguiu voltar ao século 20, e vivem extraordinárias aventuras.
Mas além da viagem no tempo, tem vários detalhes interessantes no livro, com relação aos personagens e suas áreas de conhecimento. Tem uma arquiteta e historiadora, que explica para um bando de turistas como funcionava a fundação das cidades na idade média. Os donos de terras no período medieval construíram muitas das cidades, que hoje achamos que se originaram da ocupação espontânea de um terreno próximo a um rio ou do mar. Mas esses senhores mandavam construir as cidades, às vezes, do nada, para depois explorar os habitantes com impostos, licenças etc. Enfim… Não imaginava que a especulação imobiliária funcionasse nesses termos ardilosos há tanto tempo.
Último comentário nesse tópico que está longo até para um post individual…. E o tal congressista que construiu um castelo medieval enorme numa área rural de Minas? Inacreditável. Preciso de uma máquina de viajar no tempo. Quero saltar para antes da Revolução Francesa, porque nada mudou mesmo. Continuamos sustentando uma classe de aproveitadores. A diferença é que agora somos nós que escolhemos quem vai nos explorar.
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====== TEXTOS ATUALIZADOS EM 20/02/2010 ==================
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Neil Gaiman: Coisas Frágeis
Demorou mas lançaram no Brasil essa recente coletânea do criador de Sandman.
Destaque para o conto “O Monarca do Vale”, onde Gaiman resgata o personagem Shadow, de seu romance Deuses Americanos. Outro curioso é “O Problema de Susan”, em que o autor tenta exorcizar sua frustração com o destino de Susan em As Crônicas de Nárnia.
São 9 contos maravilhosos.
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Sandman: A Jornada dos Sonhos Completa
Houve uma lacuna gigantesca na minha leitura dos 10 volumes do Sandman. Lá pelo inicio dos anos 90 parei no meio do arco Estação das Brumas. Muitas areias do tempo depois, começou a ser lançada a série completa em volumes luxuosos de capa dura e papel couchê. Daí, tirei o atraso da experiência onírica. Quando terminei o décimo volume, Despertar, resolvi voltar ao início mais uma vez e reler todos os arcos do mestre Morpheus.
Neil Gaiman é fodaralhaço. E… sei lá…. Sandman não é só uma das melhores realizações das histórias em quadrinho. É um tesouro de imaginação artística.
Como não sonhar com a possibilidade de novas histórias do Sonhos e os outros Perpétuos? Teve aquele belo “Noites sem fim”, com novas histórias do Sandman e seus irmãos desenhadas por mestres como Milo Manara, Moebius, Bill Sienkenvicz e outras feras. Mas ainda é pouco…
Casa de Bonecas, Prelúdios e Noturnos, Estação das Brumas e Um Jogo de Você podem ser meus volumes favoritos… Talvez… Mas a verdade é que tudo é bom. E ainda tem o livro com as histórias da irmã Morte.
Sem falar nas capas do Dave Mckean e no trabalho dos diversos artistas que conceberam visualmente os personagens e ilustraram as histórias.
Acho que a sequencia que mais me marcou de todas as histórias foi a da despedida de Sandman, quando sai do inferno, depois de recuperar seu elmo num combate com um dos demônios de Lúcifer. O senhor do Inferno pergunta porque ele acha que poderá sair livremente de seus domínios. E o Lord Morpheus responde algo como “-Porque eu sou o Sonho. E o que seria dos habitantes do Inferno se não pudessem sonhar com o Céu.”
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Mais Gaiman em Violent Cases, Mistérios Divinos e Dias da Meia-Noite
Na gana irracional de ler tudo do autor, comecei a limpar o tacho com esses três, que consegui encontrar em edições locais.
Marvels e Authority
Meu amigo nerd Bernardo é uma espécie de consultor para assuntos Marvel/DC. Ele me recomendou esses dois HQs de que gostei imensamente.
Nesses tempos de banalização da fama e da auto-afirmação de todo e qualquer ser humano, uma história contada do ponto de vista de quem não é herói é muito intrigante. Essa série em 4 volumes propõe justamente isso.
Novas idéias oxigenam o mundo dos HQs como essa série onde os super-heróis partem mesmo para a ignorância e realizam o que qualquer mortal gostaria de fazer para resolver problemas, conseguir justiça e combater ameaças. Tudo num contexto do planeta globalizado (defender o mundo e não só o american way) e onde o comportamento politicamente correto é defendido e ignorado ao mesmo tempo.
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Edward Rutherfurd: Os Príncipes da Irlanda (Dublin Foundation)
Esse aí eu levei quase 2 anos para ler, mas consegui terminar antes do estouro dos fogos de 31/12 (2008).
J.K. Rowling: Os Contos do Bardo Beedle
Já escrevi que Harry Potter é uma cachaça. E a autor, J. K. Rowling, ofereceu mais essa pequenina dose.