Em 2002, realizei um sonho de adolescente: assisti ao Rush no Maracanã. Estava lá entre milhares de fãs felizes, cujos gritos e pulos foram registrados no DVD Rush in Rio. Caraaaaaaaaaaaca! Lá estava o próprio monstro Neil Peart fazendo seu lendário solo de bateria. Lá estavam Geddy Lee e Alex Lifeson.
Mas não deu pra resistir de novo. Lá fui eu para a Apoteose no domingo. O som tava uma droga, como acontece frequentemente no local. Mas a qualidade da música venceu toda a adversidade. Eles são impecáveis.
Descobri o mundo basicamente com livros, filmes e discos. Me pergunto onde iria parar sem os versos de Fernando Pessoa, os filmes do George Lucas e as bandas de rock como Rush. Fly By Night, Moving Pictures, Signals, Permanent Waves, Hemispheres, Caress of Steel. Nem lembro de tudo que ouvi, pois conheci o Rush em meio a uma enxurrada de bandas como Pink Floyd, Yes, Genesis, Led Zeppelin, Deep Purple, Renaissance, Jethro Tull, Marillion, Iron Maiden, Black Sabbath, AC/DC, Scorpions, Dire Straits,The Police, Kiss, Def Leppard, The Who e um bocadão de muitas outras. Mas lembro claramente de acompanhar o som dos discos de vinil com os olhos fixos nas letras que vinham encartadas nos álbuns. As palavras de um inglês dificílimo de Moving Pictures e Signalssobreviveram nas prateleiras empoeiradas da memória.
Naqueles tempos, as bandas ganhavam dinheiro vendendo discos. Discos de vinil e, depois, CDs. Shows? Só na Europa e America do Norte. Aos poucos, isso mudou, claro. Do primeiro Rock in Rio em 1985 até o cenário atual, muita água rolou. Músicos não vendem mais discos. Ganham dinheiro com shows. Agora, o Brasil é mercado emergente de um monte de coisas. Inclusive de shows. A prova disso é que tive de escolher entre ver Rush ou Dave Matthews Band, que se apresentaram num mesmo dia no Rio.
Fico impressionada com a disposição do trio. Mandam ver com a mesma energia dos anos 70. São sofisticados pra burro. O som seriamente pesado, tem uma corzinha de jazz e folk. Ninguém soa como eles. É muito forte a idolatria pelos talentos individuais de Lee, Lifeson e Peart. Mas é clara a marca sonora da banda como um todo.
Para um repertório monstruoso como o do Rush, fica difícil tocar tudo que todos os fãs mais gostam. Não rolou New World Man nem Fly By Night. Mas, no geral, foi um set list justo. Gostei até das músicas novas, do álbum que ainda vai ser lançado depois da turnê. Enfim… Foi uma noite feliz de domingo. Quero mais. Quero Robert Plant, David Gilmour e outros bons e velhos monstros de quem ninguém mais compra discos, mas que podem nos fazer felizes com shows como esse aqui mesmo no Rio.